Fonte: Tribuna do Norte
Trinta e três famílias da Comunidade do Jacó, no bairro das Rocas, e outras 15 residentes do bairro de Mãe Luiza devem ser deslocadas para abrigos por causa das chuvas. Na noite desta quarta (13), a Empresa de Pesquisas Agropecuárias do RN (Emparn), registrou uma média de 54 milímetros de chuva em Natal em poucas horas – em algumas áreas da cidade, o volume de água chegou a 77,2 milímetros. Os institutos de meteorologia prevêem um tempo instável, com possibilidade de mais chuvas nos próximos dias para o Rio Grande do Norte.
A previsão fez com que a administração municipal buscasse uma solução imediata para as famílias residentes nas áreas com risco de desabamento . No Jacó, onde 50 famílias já foram notificadas e tiveram os imóveis interditados pela Defesa Civil, 33 estão sob risco iminente, de acordo com a Secretaria Municipal de Habitação. Dessas, 14 estão resistentes em deixar o local para o abrigo no Centro de Atenção Integrada à Criança, no bairro do Satélite.
“É muito simples. Meses atrás, a Prefeitura chega e avisa que vamos ter que sair das nossas casas, porque é perigoso. Vemos que não tem o que fazer, então aceitamos o acordo proposto pela Prefeitura, de mudar para o Village de Prata. Aí já está tudo certo e de repente chegam aqui dizendo que vamos ter que ir para um abrigo? Olhe, não vou abandonar minhas coisas aqui não. Eu vou sair para o lugar que foi combinado e estabelecido, com a chave do apartamento”, afirma Evandro Samuel da Silva, de 50 anos, e que há 10 resite no Jacó.
A casa de Evandro é uma das que foi apontada em situação de risco e interditada pela Defesa Civil. O acordo era de que, no dia 20 deste mês, o apartamento no Village de Prata, empreendimento do Minha Casa, Minha Vida para o qual está indo parte das famílias do Jacó, fosse entregue aos moradores. A possibilidade de fortes chuvas, no entanto, fez com que a Prefeitura antecipasse a recomendação para que as famílias deixassem as casas. As chaves ainda não estão disponíveis graças a razões burocráticas – de acordo com a Prefeitura, ainda falta uma autorização do Governo Federal para que a Caixa Econômica libere as chaves dos apartamentos.
A administração municipal afirma que está em contato com o Governo, a fim de tentar antecipar a entrega para que as famílias não tenham que ficar no abrigo provisório. “Ninguém quer ir para abrigo. É triste, e sabemos que vamos ter que ir se não tiver alternativa, porque são nossas vidas que estão em jogo. Mas falta uma solução que permita que a gente continue a viver com dignidade. Temos medo de sair, deixar as coisas em casa e, quando voltar, se voltar, não encontrar mais nada”, afirma Reinaldo Oliveira, de 47 anos, que há 3 anos vive no Jacó.
Por outro lado, a situação em Mãe Luiza ainda aguarda uma solução definitiva. De acordo com o secretário de habitação, Carlson Gomes, a Prefeitura ainda está estudando as alternativas. “Há possibilidade de pagar um aluguel social, ou uma indenização. Ainda estamos estudando e conversando com a população para decidir o melhor caminho”, afirma.
Além da Secretaria de Habitação, estiveram presentes as secretarias municipais de Obras e Infraestrutura, Trabalho e Assistência Social e Defesa Civil. No local, o secretário Tomaz Neto, titular da Secretaria Municipal de Obras Públicas e Infraestrutura (Semov), afirmou que um estudo para a elaboração de um novo muro de contenção para a Comunidade do Jacó já foi solicitado. “A situação na comunidade é muito séria, já existem muitos imóveis interditados pela Defesa Civil. Nossa prioridade é de proteger a vida dessas pessoas e evitar uma tragédia. Nos estudos preliminares, já foi apontado que algumas casas terão de ser removidas para a construção do muro de contenção que vai impedir que aconteçam deslizamentos de terra”, afirma.
Rua Santa Luzia
As chuvas da noite desta quarta-feira (13) inundaram parte das casas da rua Santa Luzia, em Igapó. Há sete meses em obras, a rua possui uma cratera de largura equivalente à da própria rua, por onde canos jogam água. Durante a madrugada, moradores relataram ter vivido cenas “de terror”, com água invadindo as residências e lama destruindo calçadas.
“Parecia uma onda do mar de lama. Ficamos com muito medo, pensamos que ia acontecer uma tragédia”, relata Rone Hélio do Nascimento de 39 anos, que há três meses reside na rua. A maior reclamação dos moradores é da não continuidade da obra que, de acordo com eles, é feita em diversos pontos “ao mesmo tempo”. Na rua, era possível ver um carro que ficou soterrado pela lama. Nenhum outro veículo consegue entrar no espaço.
“Começam uma parte e não terminam, abrem outra parte e não juntam com as outras. Esse desastre que aconteceu nessa madrugada era algo que prevíamos há muito tempo”, afirma José Idis Barbosa, de 39 anos, que há 26 anos reside na rua.
De acordo com o secretário Tomaz Neto, diversas obras acontecem ao mesmo tempo na rua Santa Luzia, tanto por parte da Companhia de Águas e Esgotos do Rio Grande do Norte (Caern) como da Prefeitura. “Como é uma obra de drenagem com esgoto corrente, é complexa e leva tempo. Não podemos avançar mais do que alguns metros por dia”, explica o secretário. A previsão para conclusão da obra é de 30 dias.
“Essa é uma obra que tem previsão para ser concluída em doze meses, mas vamos entregar nos próximos 30 dias, ou seja, antes do prazo previsto”, diz. Ele nega que faltem recursos para a conclusão, e que tudo está acontecendo dentro do planejamento. “Era uma área que necessitava urgentemente de uma obra de drenagem. Toda vez que chovia, por mais de 20 anos, ali alagava muito e era um transtorno para os moradores. Com a conclusão da obra, acredito que vamos sanar esse problema definitivamente”, completa.
Famílias em risco vão para abrigos
15.fev.19 10h47