Fonte: Tribuna do norte
O clima quente e úmido da capital potiguar, além de provocar calor e desconfortos para a população, também deixa em alerta os agentes de saúde do município para a possibilidade de aumento no número de mosquitos Aedes aegypti na cidade. Ao todo, cerca de 81 mil imóveis, 17% do total da capital, não conseguem ser vistoriados pelos agentes do Centro de Controle de Zoonoses, que fazem buscas por possíveis focos de mosquitos em Natal.
Em áreas como o bairro Tirol, zona leste, por exemplo, as casas fechadas ou abandonadas têm gerado problemas para os agentes de saúde que atuam no local. O bairro, como também o Nossa Senhora da Apresentação, na zona Norte, é um dos que registrou o maior aumento em casos suspeitos de arboviroses nas últimas semanas de março, como dengue, chikungunya e zika.
“A cidade está uma verdadeira estufa, com o clima propício para que os mosquitos se reproduzam. Muitas casas, por estarem fechadas, tornam difícil o acesso dos agentes de saúde, e a situação se agrava pelo fato de que esses imóveis, uma vez que os agentes saiam, muitas vezes vão voltar a ficar abandonados, então acabam acumulando outros focos”, explica Alessandre Medeiros, diretor do Centro de Controle de Zoonoses (CCZ) Natal.
De acordo com Alessandre, há mecanismos institucionais para garantir a entrada dos agentes de saúde caso o proprietário não possa ser localizado. “Após tentarmos o contato com a imobiliária, caso o imóvel esteja à venda ou para aluguel, e com o proprietário, caso a gente não consiga falar com ninguém, fazemos uma solicitação oficial que é publicada no Diário Oficial do município, para permitir a nossa entrada”, explica.
As zonas sul e leste são as de mais difícil acesso, de acordo com o CCZ. Apesar disso, grande parte das vezes, é possível estabelecer contato com os proprietários da residência ou com as imobiliárias responsáveis. A zona leste é, também, uma das que apresenta o maior número de casos suspeitos de dengue registrados, com problemas principalmente nos bairros de Tirol e Mãe Luiza.
Este ano, 787 casos suspeitos de dengue foram registrados em Natal. O número é quase a metade do que foi registrado no mesmo período, em 2018, quando a capital potiguar vivia uma epidemia de arboviroses. No ano passado, foram 1.494 casos registrados nos três primeiros meses do ano, 47% a mais que 2019.
De acordo com o diretor do CCZ, o sistema natalense de vigilância é diferente do resto do país. Na cidade, não há ações generalizadas, mas sim visitas focadas em áreas específicas, que historicamente vêm apresentado resultados mais preocupantes. “Se uma área não apresenta casos suspeitos, por exemplo, nós focamos em ações de promoção à saúde, prevenção. Cada área tem a sua particularidade e suas demandas”, explica. “Aqui funciona como uma espécie de projeto-piloto, e acredito que logo veremos uma mudança nos padrões que atualmente são seguidos para lidar com essa questão”, completa.
O objetivo do CCZ é, em suma, diminuir o impacto das epidemias e reduzir a frequência com a qual elas acontecem. “Há vários fatores que influenciam nesse objetivo. Nossa maior dificuldade, atualmente, é a colaboração e o engajamento da população. Cerca de 80% dos focos do mosquito estão nas residências, e isso não é uma particularidade de Natal, mas uma coisa que se repete em todo país. As pessoas precisam também estar atentas, olhar bem suas casas, conferir se não há locais propícios para o acúmulo de água”, diz o diretor do CCZ.
Maior parte em adultos
Além de traçar por localidade as principais áreas onde os casos das arboviroses estão sendo identificados, o CCZ divide também por faixa etária aqueles que estão sob suspeita das doenças. Nos casos de dengue, os adultos representam a maior parte das notificações. Dos 787 registrados em Natal em 2019, 57,37% foram em adultos de 20 a 39 anos.
A faixa entre 40 e 59 anos é a segunda de maior incidência, com 23,13% dos casos. Entre as crianças, as menores de um ano correspondem a 5,33% dos casos, as de 1 a 4 anos equivalem a 8,62% e as de 5 a 9, 5,44%. Já a faixa dos 10 aos 19 anos, que engloba crianças e adolescentes, corresponde a 19,5% dos casos.
Números
787 casos possíveis de dengue foram registrados em Natal até a 12ª semana epidemiológica de 2019
1.494 foi o número de casos possíveis registrados no mesmo período de 2018
80 mil imóveis, em média, deixam de ser inspecionados na cidade por estarem fechados