
O presidente Jair Bolsonaro afirmou na quinta-feira que é “impossível” conversar com o presidente da Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa), Antônio Barra Torres. Barra Torres foi indicado por Bolsonaro e já foi elogiado diversas vezes publicamente pelo presidente. No decorrer da pandemia da Covid-19, no entanto, o presidente da Anvisa passou a apresentar posições contrárias às de Bolsonaro, principalmente por defender de forma enfática a vacinação.
O atrito mais recente entre os dois envolve a decisão da agência, criticada por Bolsonaro, de autorização da imunização contra a Covid-19 de crianças entre 5 e 11 anos. Na semana passada, em entrevista ao GLOBO, Barra Torres afirmou que declarações “muito infelizes” do presidente estimularam ameaças contra servidores da Anvisa.
— Não vou falar mais de Anvisa aqui porque fechou o diálogo. Fechou o diálogo. É impossível conversar mais ali com o presidente da Anvisa. Ele tem a opinião dele, tem mandato, e continua lá. Boa sorte para ele, tomara que ele acerte. Mas, quando se fala em vacinar crianças, isso é uma coisa que mexe conosco — disse Bolsonaro, em transmissão ao vivo em redes sociais.
Na transmissão, o presidente voltou a dizer que não irá vacinar sua filha mais nova, Laura, que tem 11 anos.
— Não vou vacinar a minha filha, decisão minha. Conversei com minha esposa, ela está alinhada comigo. A minha esposa se vacinou. Ela quis se vacinar, foi se vacinar. A nossa filha nós entendemos que ela não tem quase nada a ganhar com a vacina.
Para Bolsonaro, não se pode criar um “clima de terror” na cabeça dos pais sobre a vacina:
— Você não pode, realmente, obrigado ninguém a tomar vacina. Você não pode criar um clima de terror na cabeça dos pais para vacinar seus filhos. Ou então dizer o contrário, se vacina for boa, você desestimular a vacina.
Apesar da posição de Bolsonaro, a responsável pela Secretaria Extraordinária de Enfrentamento à Covid-19 (Secovid), Rosana Leite de Melo, afirmou ao Supremo Tribunal Federal (STF) que a versão infantil da vacina não teve “nenhuma preocupação séria de segurança” identificada nos testes clínicos.
Países como Alemanha, Argentina, Canadá, Chile, França, Estados Unidos e Israel já aplicam vacinas nessa faixa etária.
‘Não consigo entender essa gana por vacina’
Bolsonaro ainda relatou que é aconselhado por alguns ministros a não tratar sobre esse assunto, mas disse que colocou um “ponto final”.
— O que eu estou falando aqui, sou aconselhado o tempo todo por alguns ministros a não falar. “Não fala, pensa nas eleições no ano que vem”. E eu já coloquei um ponto final nesses poucos ministros que tratavam disso comigo.
O presidente disse que prefere perder a eleição do que deixar de falar sobre supostos riscos — rejeitados pelos estudos — dos imunizantes e disse não entender a “gana por vacina”:
— Como eu conviver sabendo que algumas crianças foram prejudicadas por uma omissão minha ou por estar pensando em voto no ano que vem? Prefiro perder eleição, cuidar da minha vida, do que carregar essa cruz comigo. Eu peço a Deus para estar errado. Agora, não consigo entender essa gana por vacina. Nós não somos negacionistas.
Fonte: O Globo