Mesmo com a pandemia de covid-19, o Brasil bateu recorde na venda de combustíveis no ano passado, totalizando 139,5 bilhões de litros, o maior volume da série histórica iniciada no ano 2000 pela Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP), e uma alta de 6% em relação a 2020, primeiro ano da doença.
Se levada em conta apenas a soma de etanol, gasolina e o diesel, o resultado também foi recorde, de 118 bilhões de litros, com destaque para o diesel, derivado do petróleo com maior volume de vendas no País, ou 62,1 bilhões de litros. O volume é recorde e quase o dobro do que era vendido há 21 anos (35 bilhões de litros). Na comparação com o ano passado, as vendas de diesel subiram 8,1%.
As vendas de gasolina somaram 39,3 bilhões de litros em 2021, ou 9,7% a mais do que em 2020, o que confirma a volta da mobilidade urbana, passado o auge da pandemia. Já o etanol teve queda de 13% nas vendas de um ano para outro, para 16,7 bilhões de litros, bem abaixo do recorde de 22 bilhões de litros de 2019.
Da mesma maneira, as vendas de Gás Liquefeito de Petróleo (GLP) cederam 1% de um ano para outro, totalizando 13,4 bilhões de metros cúbicos, praticamente estáveis em relação a 2021.
As vendas de querosene de aviação (QAV) continuaram abaixo da média, porém 22,8% acima do desempenho do ano passado, totalizando 4,3 bilhões de litros, informam os dados levantados pela ANP.
Preços
Desde o início do governo Bolsonaro, a gasolina e o gás de cozinha subiram cinco vezes mais que a inflação oficial medida pelo Índice de Preços ao Consumidor Amplo (IPCA) no período, enquanto o diesel subiu quatro vezes, informa um levantamento feito pelo Departamento Intersindical de Estatísticas e Estudos Socioeconômicos (Dieese) seção Fup (Federação Única dos Petroleiros).
Desde janeiro de 2019, início da gestão Bolsonaro, a gasolina teve reajuste de 116%, ante uma inflação de 20,6% no período. No gás de cozinha , a alta foi de 100,1% %, e no diesel, de 95,5%, de acordo com dados da Petrobras analisados pelo Dieese.
O preço dos combustíveis praticados pela Petrobras tem papel importante nas eleições presidenciais deste ano, sendo que o líder nas pesquisas, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, já informou que vai mudar a política de preços da estatal, desatrelando o valor dos derivados do dólar.
O governo Bolsonaro manteve a política de paridade de importação (PPI) implantada a partir do governo Michel Temer, sob a gestão de Pedro Parente, ex-presidente da Petrobras, que acompanha os preços do mercado internacional do petróleo e derivados, incluindo no preço os custos de importação e da variação cambial.
Para tentar reduzir o impacto do preço dos combustíveis na inflação, o governo aposta em projetos de lei que estão sendo apresentados no Congresso. O Senado pautou para a próxima quarta-feira, 16, a votação de três projetos de lei que tentam reduzir o preço dos combustíveis. Um dos projetos se baseia na queda de impostos, outro na mudança da política da Petrobras e a criação de um fundo de estabilização. Um terceiro projeto cria um subsídio do governo federal para bancar a tarifa gratuita aos idosos no transporte urbano.
De acordo com Cloviomar Cararine, economista do Dieese/Fup, os combustíveis no Brasil deverão permanecer como uma das principais fontes de pressão inflacionária este ano.
“Com as tensões na Ucrânia e ondas de frio nos países do Hemisfério Norte,que elevam o consumo de petróleo, os preços do óleo no mercado internacional deverão subir ainda mais, podendo superar US$ 100 por barril”, prevê Cararine.
De janeiro de 2019 até hoje, a gasolina subiu 52,8% o diesel 63,6% e o GLP 47,8%, muito acima também do reajuste do salário mínimo, de 21,4% no período, de acordo com a Agência Nacional do Petróleo, Gás Natural e Biocombustíveis (ANP).
Desde que foi implantado o PPI, em outubro de 2016, até 1º de fevereiro de 2022, o gás de cozinha na refinaria sofreu reajuste de 287,2%, face a uma inflação acumulada de 29,8%. Na gasolina, o aumento foi de 117,2% e no diesel, de 107,1%. Repassados para o consumidor final, os reajustes nos postos acumularam, no período, 81,6% na gasolina, 88,1% no diesel e 84,8% no gás de cozinha, informa o estudo.
Fonte: Tribuna do Norte