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A trágica bunda!

Por Renato Cunha Lima

O grande poeta Carlos Drummond de Andrade em um dos seus célebres poemas disse: “A bunda, que engraçada.
Está sempre sorrindo, nunca é trágica…”

O poeta tudo pode, pode fazer qualquer metáfora, concordo com Gilberto Gil:

“…Deixe a meta do poeta, não discuta
Deixe a sua meta fora da disputa
Meta dentro e fora, lata absoluta
Deixe-a simplesmente metáfora”

Entretanto, o farmacêutico Drummond fez sua alquimia poética sobre a bunda numa época em que a bunda era somente uma bunda, redunda.

Hoje não, os novos tempos subverteram a moral, a cultura, a ética, o conceito de certo e errado e os devaneios de outrora, em verso e prosa, infelizmente são resquícios de um mundo que não existe mais.

Nem as feministas são mais as mesmas, ainda me lembro quando criticavam genuinamente o reducionismo da mulher como objeto sexual, incluindo o culto a bunda.

Para as feministas toda nudez deveria ser um ato político, por isso as ativistas mostram os seios com palavras de ordem escritas, para além de escandalizar, mostrar que as mulheres são bem mais que seios e bundas.

Eis então que aparece funkeira Anitta, ícone pop da nova geração, como a mais nova porta-voz feminista e do pessoal lgbtqia+ cantando hits que exalam o sexo, a promiscuidade, o consumo de álcool com danças eróticas que destacam essencialmente a bunda.

O Brasil sempre foi conhecido internacionalmente pelo seu carnaval, com mulheres desnudas sambando. As brasileiras foram historicamente estigmatizadas e vendidas como objeto sexual, produto turístico e sempre estiveram vulneráveis ao assédio sexual.

Imagina agora com o hit “Envolver” da Anitta se tornando a mais tocada no aplicativo Spotify e seu conteúdo mais picante ser o maior sucesso no aplicativo erótico OnlyFans?

Veja um trecho letra:

“Me diga como nós fazemos
Se você me quer e eu também quero você
Eu quero te comer há muito tempo
Diga o que você vai fazer”

Que noutro momento diz:

“Bebendo e fumando
Numa sauna dentro do carro contigo
Porque sempre que te vejo
Você quer sarrar comigo e eu quero acabar com você”

No caso da Anitta, a bunda se tornou uma commodities, de tanto que fatura em milhões de dólares, reais e euros com sua fortuna estimada pela Forbes em mais de meio bilhão de reais.

Sua bunda, que faz questão de exibir rebolando em seus shows e clips, de fato se tornou uma caixa registradora e não por menos a carimbou com uma tatuagem no ânus em cena exibida no aplicativo OnlyFans, onde certamente faturou bastante.

A “malandra” também usa seu poder “bundal” na política e no momento faz campanha contra o conservador presidente Bolsonaro nas suas redes socais. Apelativa, Anitta quer convencer os jovens que a seguem a votar contra Bolsonaro nas eleições deste ano.

…E quando vejo a imprensa brasileira criticando a religiosidade da bela primeira-dama Michele Bolsonaro, enquanto ufana e exalta a Anitta, que realizou show ontem no festival Lollapalooza em São Paulo, rogo escusas a Drummond e afirmo:

— A bunda da Anitta é uma tragédia nacional!

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