Conforme dados preliminares do Observatório da Discriminação Racial no Esporte, em 2021 foram registrados 53 casos de racismo e injúria racial no futebol brasileiro. De 2014 até o ano passado, o número chega a 330. No período, o Rio Grande do Sul é o estado com mais denúncias catalogadas, correspondendo a 29,4% do total. Em seguida, estão São Paulo (14,7%) e Minas Gerais (7,4%).
Ainda conforme as estatísticas, dos 330 casos, apenas 49 chegaram a ser julgados pela Justiça Desportiva (TJD/STJD), e 30 deles geraram alguma sanção. A maioria das penas foi em forma de multa (entre R$ 400 e R$ 50 mil) e/ou suspensão. Apenas três episódios foram punidos com perda de mando de campo, e dois, com perda de pontos.
De acordo com Marcelo Carvalho presidente do Observatório, o cenário atual do esporte acaba possibilitando que atos racistas continuem acontecendo com tanta frequência
“Do jeito que está, o racista está vendo que não existe punição e ele está sendo estimulado a ir para o estádio e cometer ato de racismo”
O panorama para denúncia de casos de discriminação racial em campo não é favorável, segundo o diretor. Isto porque existe um ambiente onde a vítima não tem como provar direito o que outra pessoa falou.
“O futebol envolve paixão. Os torcedores do clube que está sendo acusado vão sempre contestar. E aí a gente vai buscar câmeras e é difícil fazer essa leitura labial. É difícil chegar numa conclusão e a dificuldade faz com que os casos acabem sendo arquivados por falta de provas”.
Para Carvalho, é preciso que um protocolo seja adotado para árbitros e jogadores sobre como os profissionais devem agir quando um caso de racismo é exposto dentro de campo. É necessário também que os clubes tenham uma equipe que procure elucidar para os esportistas o que é discriminação racial e como evitá-la. Ele cita um protocolo da Fifa sobre casos envolvendo racismo. A regulamentação diz que o árbitro, ao notar atitudes discriminatórias ao longo do jogo, tem a permissão de parar ou até mesmo encerrar a partida. No entanto a medida ainda corresponde somente aos torcedores, o que não é suficiente, considerando os casos que acontecem dentro do campo, durante uma partida.
Correio do Povo