A pequena Ana Lis Tavares Alves, de 8 anos, que passou por um transplante de medula óssea em um hospital de São Paulo, foi homenageada com uma salva de palmas pela tripulação e passageiros durante o voo de retorno ao Ceará, onde mora com a família. A cena aconteceu na última sexta-feira (1º).
Nas imagens, compartilhadas na rede social de Brena Tavares, mãe da menina, é possível ouvir o momento que um membro da tripulação pede a atenção dos passageiros e fala sobre o caso de Ana Lis.
“Em nome do comandante Fabrício e de toda a tripulação, eu queria a atenção de todos, por gentileza, mas se eu chorar, vocês me desculpem. […] Ela fez transplante de medula e hoje ela está curada. Parabéns, Ana, muita saúde e que você tenha uma vida maravilhosa”, disse o tripulante do voo.
Ana Lis, que estava há seis meses em tratamento em um hospital de São Paulo, ficou bastante emocionada com a homenagem, chorou e abraçou a mãe.
“Assim que a gente entrou, nas passagens, a gente pediu para ter um cuidado especial com ela. Depois mandei um bilhete, sem ela saber, para incentivar as pessoas a fazerem doações de medula óssea”, relata a mãe sobre o ato de conscientização que resultou na homenagem à criança.
Diagnóstico
Ana Lis visitou a cabine da aeronave o retorno de São Paulo para o Ceará. — Foto: Arquivo pessoal
Médica especializada em pediatria, Brena Tavares já fazia trabalhos com crianças oncológicas e dava palestras sobre a importância do diagnóstico precoce, quando uma febre persistente em julho de 2021 levou ela a perceber que filha Ana Lis estava com algum problema.
“Quando ela teve a febre sem sintomas aparentes apareceu uma infecção no rosto, marca que a gente chama de celulite de face, uma coisa muito grave, quando o paciente não tem defesa de nada. Foi onde eu suspeitei da leucemia e quis fazer o mielo”, falou a mãe da criança.
Inicialmente, Ana Lis foi acompanhada em um hospital na cidade do Crato, no interior do Ceará. Nesse período, Brena sugeriu que a equipe médica realizasse o mielograma, exame capaz de diagnosticar cânceres como linfoma, mieloma e leucemia.
Com a negativa da hematologista local em fazer o procedimento, a mãe resolveu levar a filha para um hospital particular em Fortaleza, que fez o exame e com o resultado veio o diagnóstico em setembro, de leucemia linfoide aguda. Um tipo de câncer do sangue e da medula óssea que afeta os glóbulos brancos.
“Fiquei em choque. Nunca imaginei na vida que minha filha fosse passar por isso. […] Passamos três meses fazendo o que a gente chama de indução, que é a quimioterapia, mas a doença não entrou em remissão. Se na indução o paciente não entra em remissão, a doença não vai embora, as chances são pequenas, então a saída seria o transplante de medula óssea. Por isso, a equipe médica decidiu encaminhar a gente para São Paulo”, afirmou Brena.
Transplante
Lis (ao centro), ao lado da irmã e doadora Ana Clara (à esquerda), do pai Sérgio e da mãe Brena Tavares. — Foto: Arquivo pessoal
Em janeiro deste ano, mãe e filha saíram de Juazeiro do Norte, onde moram no Ceará, para o tratamento de Ana Lis no Hospital Samaritano, na capital paulista. Na unidade, a criança iniciou mais uma etapa: a busca de uma medula óssea compatível.
Com a demora em achar um doador para a menina, a equipe médica do hospital decidiu procurar na família.
“Como não tínhamos muito tempo para esperar a médica decidiu fazer o que se chama de transplante autólogo, com alguém da família. Aí começou a busca, eu, meu esposo, para ver quem era compatível. Fui compatível com ela, só que eu tenho 40 anos” e ela tem uma irmã de 18 anos, do primeiro casamento do pai, e a gente pediu para testar”, disse a mãe.
O pai de Lis, que também é médico, colheu o sangue da outra filha que estava no Ceará e enviou para o hospital de São Paulo. A compatibilidade das irmãs foi constatada e o transplante ocorreu no dia 8 de março.
“Com a autorização da mãe dela, tudo de acordo, ela tem 18, então a medula de 18 anos é a medula mais jovem. Então a chefe da equipe optou pela medula da irmã, que viajou do Ceará para São Paulo, para fazer essa doação”, relembrou Brena.
Após o transplante Lis continuou internada para ser acompanhada pelos médicos. Somente seis meses depois da chegada em São Paulo e três do transplante, Lis recebeu alta e pôde retornar para casa com a mãe. Agora, a menina continua recebendo cuidados junto a família.
“Os cuidados são imensos, pois ela não tem nenhuma vacina. É igual a recém-nascida, quando teve o transplante de medula é como se resetasse, reiniciou a medula dela. Então todas as vacinas que ela teve foram perdidas, porque agora ela tem a medula da irmã e vai ter que tomar todas as vacinas de novo, mas só em setembro”, disse a mãe.
Brena deixa uma mensagem para outras mães com filhos em tratamento oncológico.
“Nunca percam a fé. A caminhada não é nada fácil, mas vocês encontrarão principalmente em pessoas estranhas um apoio que nunca imaginaram. E tenham esperança, esperança é uma espera no Senhor! Deus sabe de todas as coisas”, falou a mulher.
Fonte: g1