Amanda Nunes tem um currículo invejável no UFC. Com nove cinturões conquistados (seis no peso-galo (até 61,2kg) e três no peso-pena (até 65,8 kg), a brasileira é a única lutadora que entrou para o livro dos recordes ao ser campeã em duas categorias pela organização e ao defender dois títulos ao mesmo tempo, entre homens e mulheres. Até o ano passado, a “Leoa”, apelido que recebeu em sua jornada pelo MMA, mantinha uma invencibilidade de sete anos. Mas esse domínio absoluto teve seu fim no UFC 269, quando perdeu seu cinturão do peso-galo para Julianna Peña. Desde então, a brasileira treina focada em uma revanche, que acontece neste sábado, em Dallas, pelo UFC 277.
“Tive a chama reacesa (pela Julianna)”, afirma Amanda, em entrevista ao Estadão, quando questionada sobre a derrota. “Já conquistei muitas coisas no UFC, mas ter de recuperar o meu cinturão será um sentimento inédito e, com certeza, diferente”.
Em dezembro de 2021, Amanda teve de lidar com diversos obstáculos antes do confronto com Peña. Desde a luta ter sido marcada, desmarcada e remarcada, a brasileira sofreu com lesões e a covid-19. “O meu caso foi um pouco mais grave, então fiquei com sequelas por um período maior de tempo. Quando retornei para os treinos, logo tive uma lesão no joelho, muito por causa da intensidade dos exercícios”.
A lutadora admite que a insistência em enfrentar Peña pode ter custado a sua preparação – e a sua condição para o combate. “Talvez tenha excedido o limite em seguir com a luta marcada para dezembro. Não era o momento, sentia meus músculos e braços cansados”, conta. Durante o combate, 3min36s do segundo round, Julianna encaixou o mata-leão e Amanda bateu em desistência.
“Eu não estava na minha melhor condição e, na luta, sentia que estava fazendo um treinamento”, afirma a brasileira. “São nesses momentos, nesses erros nas tomadas de decisão, que a vida dá um tapa na nossa cara” e acrescenta que deveria ter aceitado a decisão do UFC em colocar o cinturão interino na categoria ao invés de ter insistido no combate.
Preparação para a luta e ‘The Ultimate Fighter’
Sete meses desde o último encontro, muitas coisas aconteceram na vida de Amanda Nunes. A partir do momento em que deixou o octógono, após ser derrotada por Julianna, a brasileira mudou o seu foco para uma revanche no futuro. “Não adiantava ficar chorando ou triste com o resultado da luta. Quando sai e vi minha filha (Raegan) eu senti forças para me preparar para recuperar o cinturão”, conta.
Durante sua conversa para o Estadão, foi possível escutar a pequena Raegan ao fundo, que acompanha Amanda nos treinos desde os quatro meses. “Eu quero que ela (Raegan) participe da minha vida. E o UFC é uma parte importantíssima dela. Ela já presenciou minhas vitórias e, infelizmente, minha derrota. Mas sinto um apoio especial e um suporte com ela ao meu lado”, diz a lutadora. “Eu estou focada na luta, mas também preciso de um tempo para me divertir com a minha filha”.
Amanda experimentou novas sensações durante sua preparação para a revanche. Com sua própria academia, localizada em Sunrise, na Flórida, deixou a American Top Team, onde treinava desde 2014. Agora, diferentemente do que foi vivido nos últimos oito anos, Amanda tem uma equipe e treinamento focados 100% em sua preparação, física e mental.
“É o sonho de todo lutador e atleta de elite ter sua própria academia para chamar de sua. Comigo a história não foi diferente e é bom que eu viva esses momentos para, quem sabe, no futuro eu decida me tornar uma treinadora”, afirma, brincando.
Também neste ano, Amanda participou da 30ª temporada do ‘The Ultimate Fighter’, como uma das técnicas. No reality show de MMA, enfrentou a Julianna Peña, justamente a adversária deste sábado pelo título do peso galo. Amanda afirmou que a americana, com fama de falastrona e de fazer muito “trash talk” nos bastidores, teve uma postura comedida durante as gravações, que a surpreendou.
“Nós nos víamos pouco, mas eu imaginava que ela falaria mais, sobre a sua vitória no ano passado e como está mais preparada para a revanche. Mas não aconteceu nada disso. Ela pouco falou, imagino que por uma recomendação até da sua equipe”, conta a brasileira. “Acho que ficaria feio para ela (Julianna) se fosse ao ar momentos de provocação dela, por isso até que ‘pisou no freio'”, acrescenta.
Amanda avalia, no geral, a experiência no TUF como positiva. “Eu não fui (para as gravações) enfrentar a Julianna. Ela pode até ter ido com essa intenção, mas não foi o meu caso. Eu fui para me divertir, para experimentar, e isso tenho certeza que eu consegui”, conta.
Legado e Hall da Fama do UFC
Maior lutadora feminina na história da organização, Amanda afirma que sabe do seu tamanho para a história do UFC. Aos 34 anos e com um vasto currículo, a brasileira já sonha com seu espaço no Hall da Fama da organização. “Eu me tornei o que ninguém tinha se tornado antes no UFC e sei que ajudei muito no crescimento do MMA feminino nos últimos anos. Todos os meus números fazem com que eu tenha a certeza de estar no Hall da Fama ao final da carreira”.
Mas Amanda tranquiliza seus fãs. “Eu ainda tenho muito tempo aqui e me sinto jovem para seguir no octógonos por anos a seguir”, conta. “Como eu disse: minha chama está reacesa. Mas preciso primeiro reconquistar o cinturão para seguir fazendo história”.
Fonte: Estadão