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[OPINIÃO] O encontro de Rita de Cássia com os gigantes da cultura nordestina

Cantora e compositora Rita de Cássia morreu nesta semana, aos 50 anos - Foto: Reprodução

O Nordeste brasileiro já entregou ao Brasil uma interminável e lendária lista de grandes artistas. De todos os estilos, de todas as artes. Desde aqueles antigos cantadores, que adaptaram as velhas histórias orais trazidas de Portugal e da Espanha, até os artífices da xilogravura, passando pelos músicos, compositores, escritores, atores, folhetistas, repentistas, aboiadores, enfim, tantos artistas que extraíram do chão nordestino, da pele, do coração e da alma do seu povo a inspiração para fazer arte em meio ao ambiente quase sempre inóspito da região.

Sem desmerecer outras regiões do Brasil, mas é no Nordeste onde se tem a mais rica, diversa, profunda e antiga produção cultural com o DNA brasileiro.

Já nos idos do século XIX esses grandes artistas populares, a maioria analfabetos, vageavam pelas veredas dos Sertões cantando em verso. O cearense Leonardo Mota, o grande pesquisador de cultura nordestina, foi quem primeiro saiu a recolher e registrar essa riqueza civilizacional, deixando quase tudo registrado no seu monumental livro “Violeiros do Norte”. Nomes como o dos cantadores paraibanos Francisco Romano e Inácio da Catingueira foram eternizados e devidamente reconhecidos nessa obra fundamental para conhecer a arte do Nordeste.

Câmara Cascudo, claro, também pesquisou e recolheu diversos outros versos que circulavam apenas oralmente pelos sítios e feiras do Sertão. Em “Vaqueiros e Cantadores”, Cascudo apresentou ao público das grandes cidades o fabuloso potiguar Fabião das Queimadas, ex-escravo, analfabeto e poeta. Um patrimônio do Rio Grande do Norte!

Luiz Gonzaga, o maior de todos os artistas populares, tão grande que superou a barreira do elitismo para inundar o Brasil de Sertão.

Ariano Suassuna, em sua vastíssima obra, também deu valor aos simples poetas nordestinos quando se inspirou em diversos folhetos de cordel para compor sua peças e romances.

Trago esses exemplos, sem a intenção de que sejam os únicos, para mostrar que a arte sertaneja tem uma longa tradição, que se conecta de maneira profunda e indissociável com a terra nordestina e sua gente. E essa tradição está sempre a se engrandecer com novos artistas. Mas ontem, infelizmente, perdemos prematuramente uma grande artista que entrou pela porta da frente nesse seleto clube: Rita de Cássia.

Sim, ela faz parte dessa tradição. Suas músicas fazem a fotografia do sertão do seu tempo, que tem suas constantes com os sertões do passado, mas com novos elementos, novos personagens, mas também com a mesma essência que faz desta terra fascinante em todos as aspectos. Não sei se Rita de Cassia sabia disso, mas o verdadeiro artista é aquele cuja obra toca fundo no coração das pessoas. Ela conseguiu isso. E por ter sido capaz desse grande feito, Rita de Cássia foi, é, e sempre será amada pelo povo.

Minha singela homenagem a você, Rita de Cássia, que neste momento deve estar se encontrando com os grandes artistas nordestinos do passado, e para eles podendo olhar de igual para igual.

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