Uma assistente social indiana que prestou apoio à hispano-brasileira Fernanda Santos, de 28 anos, e ao seu marido espanhol, Vicente Barbera, de 64 anos, revelou em entrevista ao jornal britânico “The Independent” que, antes do ataque que terminou em agressões e estupro da turista, o homem, por precaução, começou a gravar um vídeo no momento em que começou a ouvir uma movimentação estranha do lado de fora da cabana em que estavam acampados, no distrito de Dumka, em Jharkhand, na última sexta-feira (01). As vozes do suspeitos foram captadas nessa gravação e ajudaram a polícia a identificá-los.
“A tenda deles começou a tremer e eles ouviram vozes por volta das 19h30 da noite, quando o parceiro da vítima começou a gravar um vídeo por precaução”, disse Anjula Murmu ao tabloide inglês. “Ele disse “oi” e os homens que estavam do lado de fora responderam de volta, antes de começarem uma breve conversa durante a qual pareciam estar visivelmente bêbados”.
A mulher afirma que assistiu a gravação. Ela afirma que, logo em seguida, eles contaram que o grupo saiu, mas voltou pouco depois com mais homens e o ataque à barraca começou.
“A mulher lutou fortemente contra os agressores, mas foi dominada por eles, que a violaram repetidamente durante cerca de três horas”, contou. “No momento em que (o casal) saiu, eles foram atacados, com alguns deles contendo o homem, enquanto os outros foram atrás da mulher, que tentou tirar uma faca de seus sapatos e até se escondeu no escuro para se salvar”, disse.
Fernanda e Vicente entraram na Índia pela fronteira com o Paquistão, em Amritsar, em meados de julho. Eles viajavam pelo país há cerca de seis meses e documentavam a tudo nas redes sociais, onde os blogueiros possuem mais de 600 mil seguidores.
Histórico de violência sexual
O ataque violento ao casal de turistas gerou grande repercussão na Índia, onde, desde 2012, casos de estupro podem levar até à pena de morte. A polícia indiana afirma que todos os oito suspeitos de participação no crime já foram presos.
O caso colocou o histórico assustador de violência sexual na Índia sob os holofotes. O país é considerado um dos piores em termos de violência sexual contra mulheres e teve quase 90 estupros denunciados por dia em 2022, de acordo com o escritório nacional de registros criminais.
No entanto, há uma subnotificação. Muitos ataques não são denunciados, seja por vergonha devido ao estigma, seja pela falta de confiança no trabalho das autoridades. As condenações raramente são emitidas e muitos casos acabam estagnados no saturado sistema judicial do país.
Em 2012, o caso de uma jovem que foi vítima de um estupro coletivo e depois assassinada ganhou as manchetes em todo o mundo. Jyoti Singh, uma estudante de psicoterapia de 23 anos, foi estuprada e abandonada, dada como morta, por cinco homens e um adolescente em um ônibus em Nova Délhi. Na época, o caso trouxe à tona os altos níveis de violência sexual na Índia, com semanas de protestos e uma mudança na legislação para punir o crime de estupro com a pena de morte.
Fonte: O Globo