O presidente Luiz Inácio Lula da Silva afirmou nesta segunda-feira(18) durante a abertura da primeira reunião ministerial do ano que não há mais dúvida de que houve uma tentativa de golpe nos ataques de 8 de janeiro e chamou o ex-presidente Jair Bolsonaro de “covardão”.
Lula afirmou que “pessoas que estavam no comando das Forças Armadas” não quiseram “aceitar a ideia” de golpe do ex-presidente. Na última sexta-feira, o ministro Alexandre de Moraes, do Supremo Tribunal Federal (STF), derrubou o sigilo de parte dos depoimentos que compõem a investigação da trama do golpe.
“Se há três meses quando a gente falava em golpe parecia apenas insinuação, hoje nós temos certeza que esse país correu sério risco de ter um golpe em função das eleições de 2022. E não teve golpe não só porque algumas pessoas que estavam no comando das Forças Armadas não quiseram fazer, não aceitaram a ideia do presidente, mas também porque o presidente é um covardão”, afirmou Lula.
Lula, então, afirmou que Bolsonaro “ficou em casa chorando” e que depois fugiu para os Estados Unidos com a expectativa de que o golpe acontecesse.
“Ele não teve coragem de executar aquilo que planejou, ficou dentro de casa chorando quase que um mês e preferiu fugir para os EUA do que fazer o que tinha prometido, na expectativa de que fora do país o golpe poderia acontecer porque eles financiaram as pessoas na porta dos quarteia para tentar estimular o golpe”, disse.
Em um dos depoimentos, o ex-chefe da Aeronáutica Baptista Júnior afirmou a PF que o ex-comandante do Exército, general Freire Gomes, tria ameaçado Bolsonaro de prisão caso avançasse com a tentativa de golpe de estado.
Mauro Vieira na Palestina
Lula também citou a viagem do ministro Mauro Vieira (MRE) para a Palestina, e afirmou que o chanceler está levando um “recado” do Brasil. O ministro é o único que não está presente na reunião desta segunda-feira.
“Está faltando um ministro importante que é o companheiro Mauro Vieira, que está em uma viagem internacional, foi visitar a situação da Palestina, Cisjordânia e outros países para levar um recado, uma mensagem brasileira para lá”, disse.
O Itamaraty traçou um roteiro de visitas a países do Oriente Médio que deixará Israel de fora. As relações entre o Brasil e o governo israelense estão abaladas por uma crise causada pelas críticas de Lula aos ataques a civis palestinos na Faixa de Gaza.
Segundo o Itamaraty, a ausência de Israel do roteiro não foi deliberada. A ida do chanceler brasileiro à região, explicou o órgao, foi em resposta a convites anteriores.
Religiosos
Durante a reunião, Lula criticou o uso político da religião e afirmou que não é possível compreender ” religião sendo manipulada da forma vil e baixa”. Pesquisa Genial/Quaest mostrou que avaliação negatica de Lula entre os evangélicos cresceu nos últimos meses.
“Um país em que a religião não seja instrumentalizada como um instrumento político de um partido político ou de um governo. Que a fé seja exercitada na mais plena liberdade das pessoas que queiram exercê-la. A gente não pode compreender a religião sendo manipulada da forma vil e baixa como está sendo neste país”, disse.
Segundo análise da Quaest, a piora na avaliação entre evangélicos foi influenciada pela declaração do presidente Luiz Inácio Lula da Silva que compara as ações de Israel em Gaza ao que Hitler fez contra os judeus durante a Segunda Guerra. A fala foi considerada exagerada por 60% dos entrevistados e 69% dos adeptos ao segmento religioso.
Reunião ministerial
A reunião acontece após sucessivos reveses para o governo, como a piora nos índices de aprovação e desgastes causados por falas do presidente sobre o conflito entre Israel e Palestina e ações consideradas intervencionistas na Petrobras e na Vale.
Durante a reunião, o presidente Lula citou uma série de ações do governo federal desenvolvidas ao longo do último ano, como a ampliação do Bolsa Família e o reajuste do salário mínimo, mas afirmou que “ainda falta muito” para ser feito no país.
“Todo mundo sabe também que ainda falta muito a gente fazer. Por mais que a gente tenha recuperado Farmácia Popular, Mais Médico, por mais que tenha feito clínica, a gente tem ainda muito para fazer em todas as áreas. E muito não é nada estranho, é tudo o que nos comprometemos a fazer durante a disíta eleitoral”, disse.
Em outro momento, Lula afirmou que a equipe de governo teve um “trabalho hercúleo” para recuperar as políticas públicas do país e criticou a gestão anterior, sem mencionar o ex-presidente Jair Bolsonaro.
“Foi um trabalho hercúleo para recuperar tudo isso. Recuperar o Bolsa Família, incluindo mais gente, aumentando o Bolsa Família. A gente criar programas educacionais, que vão desde a alfabetização na hora certa, ao pé de meia, institutos federais, recuperações de vários prédios universitários que estavam paralisados. Todo mundo sabe o que foi feito nesse país para que a gente recuperasse o poder aquisitivo do salário mínimo. É o segundo ano consecutivo que o salário mínimo vai aumentar acima da inflação”, afirmou.
Ao criticar a gestão anterior, Lula afirmou que todas as ações desenvolvidas pelo governo federal até aqui “não bastam” porque o Brasil estava “totalmente abandonado”.
“Isso tudo que nós fizemos é apenas o início, mas isso não basta. Vamos ter que fazer muito mais, porque o Brasil estava totalmente abandonado. O governo anterior, como vocês sabem, nunca se preocupou em governar esse país. Ele nunca se preocupou com a economia, ele nunca se preocupou com políticas de inclusão social. Ele se preocupava em estimular o ódio entre as pessoas, a mentira, e continua fazendo do mesmo jeito”, disse.
A reunião ainda teve direito a um pedido de “mais entusiasmo” feito ao ministro da Casa Civil, Rui Cosa, pelo vice-presidente Geraldo Alckmin.
“O presidente está pedindo que eu fale com mais entusiasmo aqui “, falou Rui Costa durante sua apresentação, se corrigindo em outro momento: “Foi o Alckmin que pediu para falar com mais entusiasmo aqui. Mas os números falam por si só aqui. Os números são muito expressivos”.
Já o ministro da Secretaria das Relações Institucionais, Alexandre Padilha, afirmou antes da reunião em entrevista a GloboNews, que o encontro seria para ter uma “visão geral” das ações que estão sendo desenvolvidas pelo governo.
“Foco do presidente Lula ano passado foi semear, e esse ano é para colher. Presidente Lula vai fazer uma avaliação do que foi anunciado e do que está sendo entregue para a população, vai ver quanto os ministros estão viajando para acompanhar as ações. Presidente Lula quer muito junto com os ministros ter um diagnóstico mais concreto do que foi anunciado”, afirmou Padilha
Fonte: O Globo