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Manoel Dantas e a galera das startups

Por Arthur Dutra Advogado e comunicador. Autor do livro “Natal do Futuro” (2021)

A Ribeira, cortada em xadrez de ruas, praças e avenidas, é o bairro do alto comércio, da Bolsa, dos grandes estabelecimentos bancários. O `Banco do Natal`, com o seu capital de mais de cem mil contos, pode construir, na avenida Tavares de Lira, um edifício soberbo que atesta a sua prosperidade. Os mostradores dos bazares imensos ostentam, numa exibição fantástica, as mais variadas mercadorias, destinadas a despertar a cobiça ou prover as necessidades de gente que por ali passa num vai-vem contínuo”. Isso é Manoel Dantas (1867-1924) em 1909, escrevendo – ou sonhando – como seria Natal em 1959. O texto faz parte da conferência futurista “Natal daqui a cinquenta anos”.

Evidente que esse exercício utópico de imaginação não deve ser tomado ao pé da letra, mas agora, 100 anos após a morte de Manoel Dantas, sua obra serve como inspiração para outras reflexões para a Natal atual e dos próximos anos.

A imagem da Ribeira projetada por Dantas em 1959 remete a um bairro comercial com muita vitalidade. Pessoas caminhando freneticamente nas calçadas e ruas em busca de negócios e mercadorias. Este é um cenário que muitas cidades ainda buscam. Afinal, é isso que faz com que os centros urbanos sejam lugares onde a interação pode fecundar as mentes com o intercâmbio de ideias, garantir o fluxo de recursos financeiros e favorecer a cooperação, proporcionando o desenvolvimento das potencialidades humanas e econômicas.

Atualmente, ao invés de um espaço urbano com essas características, temos um mausoléu deteriorado, sem gente na rua, sem negócios prósperos, praticamente sem vida. Não é obra recente, claro, mas tem solução. Uma delas é apostar nas pessoas, nas atuais e futuras gerações, e fazer com que elas redefinam, com seu entusiasmo e poder criativo, o espaço urbano para que ele seja esse ambiente estimulante e vibrante.

Notícia do Portal Investindo Por Aí, especializado em conteúdos sobre a economia nordestina, dá conta que os ecossistemas de startups do Nordeste estão conseguindo frear a migração de talentos para o Sul e Sudeste. Natal, claro, também é destaque, com a menção à comunidade Jerimum Valley. São jovens que poderiam muito bem tomar os caminhos de outros centros mais desenvolvidos e levarem consigo seu talento, mas estão conseguindo ficar por aqui. O trabalho remoto para empresas de fora tem contribuído para isso, mas também porque estamos nos esforçando para criar a atmosfera e as oportunidades para que aqui permaneçam.

É esse capital humano, altamente qualificado, entusiasmado e que quer empreender na sua terra, que precisa ser cuidado e ainda mais incentivado. É essa força criadora e inovadora que poderá lançar o olhar para nossas potencialidades e redesenhar o presente e o futuro da cidade, fazendo dela algo parecido com o que sonhou Manoel Dantas há 115 anos, e que perseguimos até os dias de hoje.

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