Tiago Rebolo
Da Redação da 98 FM
O perito independente escolhido para avaliar a possibilidade de mudança do canteiro de obras da restauração da Ponte de Igapó entregou seu relatório à Justiça Federal. O documento é assinado por Vinicius Leite Silveira, especializado em perícias de engenharia.
A Ponte de Igapó está interditada no sentido da Zona Norte para o Centro desde 12 de setembro do ano passado. O sentido oposto está funcionando como mão dupla. Ao todo, a obra está orçada em R$ 20,8 milhões e prevê a restauração completa da ponte. A realização é da empreiteira Jatobeton Engenharia, contratada pelo Departamento Nacional de Infraestrutura de Transportes (Dnit). As obras devem durar até o início do próximo ano.
A análise foi feita a pedido da juíza Moniky Mayara Costa Fonseca, da 5ª Vara Federal, dentro de uma ação protocolada pela Prefeitura do Natal que pede a transferência do canteiro para outro lugar. A gestão do prefeito Álvaro Dias (Republicanos) aponta prejuízos para o trânsito na região com a instalação do canteiro sobre um dos lados da ponte.
Com o relatório, a juíza vai decidir se acata ou não o pedido da prefeitura para mudar o canteiro de lugar. No dia 25 de março, um pedido de liminar foi negado pela magistrada.
O que diz o perito
A 98 FM teve acesso ao documento. No texto, o engenheiro salienta que sua perícia é preliminar, e que um estudo mais completo deve ser realizado por mais de um profissional. No entanto, ele diz ter chegado à conclusão que mudar o canteiro de lugar deixaria a obra mais cara e demorada.
O perito enfatiza que a modificação do local do canteiro de obras alteraria todo o planejamento dos serviços. Ele diz que seria preciso, por exemplo, construir estruturas provisórias para permitir o acesso de operários e máquinas às áreas que serão restauradas, diante do tráfego normal de veículos que ocorreria sobre a ponte.
“Para realização de serviços que necessitem ser próximos do local de aplicação, como por exemplo dobras, montagem e manuseio de armaduras, necessitaria da implantação de plataformas flutuantes e estas devem ser avaliadas, projetadas por engenheiro especializado, como engenheiro naval, uma vez que, ao se liberar uma das pistas o canteiro, se reduziria a apenas uma pista e sobrariam, devido ao tapume e sua estrutura, menos de 3,00 m. A fresagem do asfalto deve ser realizada por equipamento autônomo que caiba com folga no espaço entre o tapume e a mureta de proteção da passarela de pedestres”, destacou o engenheiro.
Mesmo assim, o perito afirma que seria preciso avaliar possíveis impactos ambientais da instalação do canteiro em área anexa, já que próximo à ponte existe uma área de manguezal e de proteção ambiental.
Além disso, o perito destaca a preocupação sobre a remoção de entulhos: “Por certo que a liberação de uma das pistas restringirá por demais a circulação de caminhões e manobras destes veículos no canteiro da obra, necessitando de se utilizar veículos menores como pequenos tratores que carreguem caçambas estacionárias com entulhos de obra, sendo estas caçambas estacionadas sobre plataformas com rodas, pois não haveria espaço para tratores ou retroescavadeiras de grande porte manobrarem livremente. No caso de entulhos, há também a possibilidade de se remover através de embarcações, mas com isto necessitaria de guinchos ou pequenos guindastes para elevar e movimentar as caçambas das embarcações até o ponto de retirada”.
Vinicius Leite Silveira ressalta que esses itens provavelmente encareceriam a obra. E acrescenta: “Outro impacto inevitavelmente será no cronograma da obra, pois, quando se coloca o canteiro fora do local da obra por alguma necessidade específica, se altera toda a infraestrutura, onde operários, máquinas e veículos terão de se deslocar com dificuldades maiores e em maior trajeto, impactando no tipo de maquinários a serem utilizados, na dificuldade maior de transporte e no tempo para execução dos serviços, ampliando assim o tempo de obra”.
Isso sem falar no tempo até que órgãos como o Dnit e o Tribunal de Contas da União avaliassem a nova cotação de preços e autorizassem aditivos na obra.
Reordenamento do trânsito
O engenheiro sugere, como alternativa, um reordenamento do trânsito na região. “Como engenheiro eu entendo que um reordenamento do trânsito conforme sugerido evitaria todas estas readequações e envolvimentos de órgãos e autarquias, além de proporcionar menor prazo de obra”, enfatizou.
“Deve-se analisar se uma reformulação no trânsito local com apenas ônibus, caminhões e veículos oficiais de governos e ambulâncias trafeguem nos horários de ‘pico’ pela ponte, de forma que não realizar readequações no planejamento da obra proporciona a finalização dos serviços em menor tempo, mas caso se opte por readequações, necessita se avaliar rapidamente os impactos em contrato, custo de obra, cronograma e etc”, acrescenta.