Quando ele passou pela segunda vez na calçada do Museu Café Filho, em Natal, Ivanise já estava com o coração apertado e incerta se haveria outro momento com o rapaz que havia avistado no mesmo local de seu trabalho havia poucos dias.
O museu só abria às 13h30, mas neste dia ela chegou mais cedo para trabalhar, meia hora antes, e já se pôs na janela para não perder a possível passagem do jovem – que, mesmo de forma inesperada, ganhará todos os seus pensamentos.
Ele passou e parou. Ela rapidamente escondeu no bolso a aliança de noivado, do compromisso que tinha com o prometido que estava a trabalhar no Rio de Janeiro, e abriu um sorriso tímido. Ele não perdeu tempo e se ofereceu para acompanhar ela no trajeto da escola até em casa. Ela, jogando uma pedra à frente, disse “sua namorada pode não gostar”, e ele: “se eu tivesse uma namorada eu seria um rei… Mas agora eu encontrei uma rainha”.
Só levou uma semana para Ivanise desfazer o noivado, por carta mesmo, e dar início a sua história de amor ao lado de Nivaldo Vale; que não trouxe só amor, um casamento que já dura mais de 40 anos e 3 filhos. Foi ele que a viu Rainha, foi ele quem a presenteou em 1985 com uma tela e pincéis e disse: “você vai ser uma grande artista”.
Nivaldo já era artista plástico quando encantou Ivanise, e foi pela arte dele que ela se inspirou, e é hoje uma das principais artistas Naif do Rio Grande do Norte. O tipo de arte ingênua, que brota das memórias de infância, que leva cores vibrantes e que não firma compromisso com técnicas convencionais, se entrelaça com esse caminho de amor que os dois encontraram para seguirem juntos.
Em cada tela, Ivanise aduba com as próprias mãos as raízes nordestinas, fazendo viver a cultura e o folclore popular. As pinceladas que nascem das lembranças vividas na casa dos avós no interior ganham emoção nas cenas com pastoril, Boi de Reis, galantes, quadrilhas juninas e o cotidiano simples dessa terra rica e povo único. A feira de rua, a colheita do algodão, o circo que chegou no vilarejo, o banho de rio, tudo está lá.
Como a arte, Ivanise não tem fim. É para sempre uma imensidão que transborda em cores no coração da gente.