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A RAINHA NAIF POTIGUAR

Ivanise com sua primeira tela pintada em 1985. Foto: Dani Oliveira

Quando ele passou pela segunda vez na calçada do Museu Café Filho, em Natal, Ivanise já estava com o coração apertado e incerta se haveria outro momento com o rapaz que havia avistado no mesmo local de seu trabalho havia poucos dias.

O museu só abria às 13h30, mas neste dia ela chegou mais cedo para trabalhar, meia hora antes, e já se pôs na janela para não perder a possível passagem do jovem – que, mesmo de forma inesperada, ganhará todos os seus pensamentos.

Ele passou e parou. Ela rapidamente escondeu no bolso a aliança de noivado, do compromisso que tinha com o prometido que estava a trabalhar no Rio de Janeiro, e abriu um sorriso tímido. Ele não perdeu tempo e se ofereceu para acompanhar ela no trajeto da escola até em casa. Ela, jogando uma pedra à frente, disse “sua namorada pode não gostar”, e ele: “se eu tivesse uma namorada eu seria um rei… Mas agora eu encontrei uma rainha”.

Tela “Bailarinas”, de 2015; parte do acervo da artista. Foto: Dani Oliveira

Só levou uma semana para Ivanise desfazer o noivado, por carta mesmo, e dar início a sua história de amor ao lado de Nivaldo Vale; que não trouxe só amor, um casamento que já dura mais de 40 anos e 3 filhos. Foi ele que a viu Rainha, foi ele quem a presenteou em 1985 com uma tela e pincéis e disse: “você vai ser uma grande artista”.

Foto: Dani Oliveira

Nivaldo já era artista plástico quando encantou Ivanise, e foi pela arte dele que ela se inspirou, e é hoje uma das principais artistas Naif do Rio Grande do Norte. O tipo de arte ingênua, que brota das memórias de infância, que leva cores vibrantes e que não firma compromisso com técnicas convencionais, se entrelaça com esse caminho de amor que os dois encontraram para seguirem juntos.

Foto: Dani Oliveira

Em cada tela, Ivanise aduba com as próprias mãos as raízes nordestinas, fazendo viver a cultura e o folclore popular. As pinceladas que nascem das lembranças vividas na casa dos avós no interior ganham emoção nas cenas com pastoril, Boi de Reis, galantes, quadrilhas juninas e o cotidiano simples dessa terra rica e povo único. A feira de rua, a colheita do algodão, o circo que chegou no vilarejo, o banho de rio, tudo está lá.

Como a arte, Ivanise não tem fim. É para sempre uma imensidão que transborda em cores no coração da gente.

Foto: Dani Oliveira
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