Ainda que seja impossível reproduzir fielmente na Terra como seria viver em Marte, uma iniciativa está usando desde 2017 uma região semiárida do Rio Grande do Norte para simular a produção de alimentos e de energia no planeta vermelho. O objetivo é desenvolver um sistema autossustentável para astronautas produzirem sua própria comida em futuras missões.
O projeto Habitat Marte faz parte dos esforços da comunidade científica para viabilizar a colonização do planeta, que parece estar cada vez mais perto de se tornar uma realidade. Só em julho deste ano, três países lançaram sondas para lá, sendo a missão da Nasa considerada a mais ambiciosa de todas, com direito até a helicóptero sobrevoando o céu marciano.
Para simular como seria plantar naquele planeta, os pesquisadores do Habitat Marte desenvolveram no pico do Cabugi —um vulcão extinto em Angicos (RN)— estufas que recriam as condições favoráveis para cultivar vegetais em sistema fechado, com controle de temperatura e umidade. O local foi escolhido por ser rico em basalto, um elemento primário do solo marciano.
Essas estufas também têm sistemas de aquaponia, onde é possível cultivar plantas sem precisar usar o solo para isso —já que as raízes dos vegetais ficam submersas na água— e peixes.
“Nesse sistema, há a produção de tilápias e de alimentos de raiz longa, como feijão, cebola, tomate e alface”, explica Julio Rezende, professor da UFRN (Universidade Federal do Rio Grande do Norte) que coordena o projeto.
Já existem pesquisas com vegetais e até com peixes na ISS (Estação Espacial Internacional, sigla em inglês). Em termos de gravidade, as condições em Marte seriam ainda mais favoráveis para o cultivo de peixes se comparadas com as da estação.
“Pode ser também viável [a construção de] sistemas de hidroponia, para geração de substâncias nutritivas para o desenvolvimento das plantas. Pesquisas sobre o tema são importantes para a futura vida em Marte”, acrescenta.
Para ele, o Habitat Marte vai além da exploração do planeta vizinho: poderá ajudar a resolver problemas do próprio semiárido brasileiro, onde também há escassez de alimentos e água. Para a criação e manutenção do local, Rezende já tirou do próprio bolso cerca de R$ 1,3 milhão.
Fonte: UOL