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Deseducando!!

Por Renato Cunha Lima Filho

Um dos aspectos mais trágicos da pandemia, com consequências futuras ainda imensuráveis, é o blecaute na educação.

Não tem jeito, nada será como antes, o mundo no pós pandemia pouco parecerá com o que conhecíamos e na educação de nossas crianças e jovens essa ruptura será mais percebida.

Primeiro precisamos contextualizar que já tínhamos uma educação de péssima qualidade e não resta dúvidas que o maior abismo social que temos sempre foi o educacional e não o econômico, que acaba sendo consequência.

A desigualdade de oportunidades no Brasil é tão criminosa, num foço que começa desde a primeira infância, que só podemos descrever o que temos como sendo um “estelionato educacional”.

— Então, o que estava ruim, piorou com a pandemia?

Imagine uma casa sem luz elétrica, onde a única luz a noite vem da lamparina e o querosene acabou, desse jeito. A questão que há no país casas com luz elétrica e internet banda larga e escolas privadas oferecendo aulas online e acompanhamento home office.

Não que esteja sendo uma maravilha para quem tem condições de ter aulas online, com as famílias absolutamente despreparadas para ensinar seus filhos, mas claro que é melhor do que não ter nada.

Quem não tem essa possibilidade, até por falta de conectividade, convive com a interrupção brusca da aprendizagem e muitas vezes com a fome, pela falta de merenda escolar regular.

Outro aspecto dramático, sobretudo para as famílias mais humildes, exatamente as mais atingidas pelos decretos restritivos de governadores e prefeitos é a habitação precária.

— Não queiram saber como estão se virando as milhares de famílias, onde a dona de casa perdeu emprego e o marido está impedido de vender ginga com tapioca na praia e uma ruma de menino em casa sem estudar e sem merenda.

Tudo bem que há um esforço público em assistir essas famílias com um “auxílio emergencial”, mas tenham certeza que não é esmola o que desejam, como todo mundo, o desejo é ver os filhos na escola e voltar a trabalhar dignamente.

Muitas pessoas, além do risco de contrair o Covid, seja numa habitação superlotada de parentes em comunidades superpovoadas, seja por meio de um transporte público superlotado, como é a realidade de muitos, ainda estão sofrendo mentalmente.

A depressão, o pânico, o desespero e toda uma gama de doenças mentais, que levam o aumento da violência doméstica e até ao suicídio, também agravam a situação das crianças e jovens sem aulas.

A escola, dentre suas atribuições, tem essa função de evitar abusos sexuais, pedofilia e agressões físicas em crianças e adolescentes. Casos como o ocorrido com o menino Henry, brutalmente assassinado, só vem aumentando neste tempo todo sem escola.

Nem sabemos mais como serão as escolas amanhã. Espanta saber que enquanto todas as classes profissionais lutam para voltar ao trabalho, os sindicatos da educação, resistem a volta as aulas.

Os profissionais da educação, infelizmente, ainda estão no “modo analógico”, sobretudo no setor público e não percebem que já passamos do “modo digital” de acesso à internet e a infinitos conteúdos, para a “era da conectividade”.

Dentre toda a tragédia a aula online veio para ficar, hoje o aluno da mais longínqua e pobre localidade do sertão pode ter uma aula com o melhor professor de matemática do país, desde que tenha um acesso à internet. Tudo está disponível através das redes sociais e com aulas dos mais variados assuntos disponíveis gratuitamente.

O modelo de educação irá mudar inexoravelmente, não há como resistir ou achar ruim. O Choro é livre e já se chora por falta de educação há séculos e é preciso quebrar paradigmas.

Um novo modelo novo de escola deverá surgir com o pós pandemia, uma escola compreendida como um ponto de convivência, orientação e conectividade, onde professores e alunos se interagem num sistema de cooperação para acessos de conteúdos úteis a realidade de cada um.

Precisamos de técnicos onde falta técnicos, como mecânicos, pedreiros, eletricistas, como doutores onde há demanda para doutores e assim por diante com engenheiros, advogados e agrônomos. O capital humano precisa ser desenvolvido de acordo com a procura, o que trará melhores salários e menor desemprego neste novo mundo.

A tragédia que ocorre na educação, pode ser compreendida como oportunidade para um novo modelo de educação e para tanto, toda a sociedade deveria debater o tema, que depois do sanitário, deveria ser a prioridade de todos.

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