A Associação Médica do Rio Grande do Norte emitiu uma nota nesta quarta-feira (2) para repudiar o tratamento que a médica Nise Yamaguchi recebeu de alguns senadores durante depoimento à CPI da Pandemia no Senado na terça-feira (1º). Em nota, a entidade lamentou a postura de parlamentares e pediu “respeito, consideração e solidariedade” aos profissionais de saúde que buscam alternativas terapêuticas para os seus pacientes.
“A Dra. Nise Yamaguchi (…) foi surpreendentemente constrangida e desrespeitada pelos senadores que compõe (sic) a referida CPI durante seu depoimento. O lamentável fato surpreende esta Associação Médica, especialmente considerando que a Comissão Parlamentar é representada e composta por vários senadores médicos, cientes de seus deveres éticos e que, durante a sessão, demonstraram imenso desrespeito à classe médica”, enfatiza a nota.
O documento da Associação Médica é assinado pelo presidente da entidade, Marcelo Matos Cascudo. Na nota, o médico enfatiza que é necessário um “esforço recíproco de toda a sociedade a fim de enfrentarmos todas as tribulações decorrentes da pandemia”.
“Nesse contexto, os médicos, personagens essenciais ao enfrentamento da doença, merecem o mínimo de respeito, consideração e solidariedade por toda dedicação prestada à saúde, ciência e tratamento de seus pacientes”, complementa.
Por fim, a Associação Médica ressalta que “a afronta dos senadores evidenciada em sessão parlamentar não alcança somente a classe médica, mas a toda a população brasileira, devendo esse comportamento ser veementemente repudiado”.
Como foi o depoimento
Entre várias contestações por imprecisões, divagações e uma fala que o debate sobre a Covid-19 colocou na caixa do chamado negacionismo, o depoimento da médica Nise Yamaguchi à CPI da Pandemia foi marcado por diversas interrupções de suas declarações e respostas logo nas primeiras horas da sessão de terça-feira (1º).
Nise falava na condição de convidada. Conhecida por defender o “tratamento precoce” para a Covid-19, ela contradisse o ex-ministro da Saúde Luiz Henrique Mandetta e o presidente da Anvisa, Antonio Barra Torres, e negou uma suposta tentativa de alteração na bula da cloroquina, comportamento que foi alvo de uma série de questionamentos dos senadores.
A sessão, no entanto, ganhou verniz particular por interrupções dos parlamentares e intervenções de senadoras para que Nise pudesse concluir suas falas. A médica começou a depor por volta das 10h10 dessa terça-feira e, até a primeira suspensão da sessão às 11h34, ela havia sido interrompida ao menos 43 vezes. O relator da CPI, senador Renan Calheiros (MDB-AL) é quem inicia as perguntas aos depoentes.
Entre os questionamentos feitos a Nise, estava o uso da cloroquina – medicamento sem eficácia comprovada para combater a Covid-19 – o suposto “gabinete paralelo” que orientaria o presidente Jair Bolsonaro (sem partido) em assuntos relacionados à pandemia e estaria à parte do Ministério da Saúde e a alteração na bula da cloroquina, conforme foi alegado por Barra Torres e Mandetta em depoimento.
Ainda durante a primeira parte do depoimento de Nise, após interrupções dos senadores Renan Calheiros (MDB-AL), Omar Aziz (PSD-AM), Rogério Carvalho (PT-SE), Otto Alencar (PSD-BA) e Jorginho Mello (PL-SC), a senadora Leila Barros (PSB-DF) pediu a palavra e saiu em defesa de Nise. Acabou interrompida pelos senadores.
“Ela não está conseguindo concluir um raciocínio. Com todo respeito, vocês sabem de qual lado que estou. Existe uma ansiedade muito grande pelas respostas da convidada. Eu peço só a vocês que tenhamos um grau de tranquilidade porque existe uma ansiedade muito grande”. Aziz, então, interrompe Leila afirmando que ela “chegou agora”.
Mais tarde, o senador Otto Alencar questiona o fato de a médica indicar um medicamento sem comprovação para tratamento da doença e pede exemplos de testes feitos para a comprovação da cloroquina, efeitos colaterais e o que a médica sabe sobre o coronavírus. Nise responde, mas não cita datas ou estudos – ela então é interrompida pelo senador.
“A senhora não soube explicar o que é o vírus (…) A senhora não sabe nada de infectologia, nem estudou, doutora. A senhora foi aleatória mesmo superficial. O Covid-19 é da família dos betacoronavírus”, diz Otto, que também é médico. O momento se tornou um dos mais comentados da sessão desta terça-feira nas redes sociais.
*Com informações da CNN Brasil