antes-visualizacao-noticia

Osmar Terra volta a defender tese da imunidade de rebanho na CPI da Covid

À mesa, em pronunciamento, ex-ministro da Cidadania, deputado Osmar Terra (MDB-RS). Foto: Marcos Oliveira/Agência Senado

O deputado Osmar Terra (MDB-RS), apontado como um dos principais influenciadores do presidente Jair Bolsonaro na pandemia de covid-19 e “padrinho” do chamado “gabinete paralelo” voltou a dizer que o fim da pandemia se dará com a imunidade de rebanho como medida para o controle da doença no País, apesar das evidências científicas apontando no sentido contrário.

Terra afirmou não tratar a imunidade de rebanho enquanto proposta, mas como um resultado natural do curso de uma pandemia. Ele negou que tenha apresentado uma proposta de “contaminar a população livremente”. “Eu não defendo a imunidade de rebanho. Ela é o resultado de todas as pandemias. Não é uma proposta.”

A aposta na imunidade de rebanho é uma das linhas de investigação da CPI, colocando o chefe do Planalto no centro da apuração.

“Imunidade de rebanho é uma consequência, é como terminam todas as pandemias, quando a população, por vacina, e nesse caso deve ser por vacina, ou não, chegar a um porcentual que termina com a pandemia”, disse Osmar Terra em sua fala inicial no depoimento. Chamado pelo relatos Renan Calheiros (MDB-AL) de “líder do negacionismo”, Terra respondeu: “Eu defendo a vacina, eu não sou negacionista. Eu não nego a vacina. Acho que temos de enfrentar qualquer pandemia e a e melhor forma de salvar vidas é trabalhar como foi feito em todas as pandemias”, respondeu Terra.

Renan confrontou o parlamentar com declarações anteriores, quando Osmar Terra disse que a vacina só teria eficácia “depois da imunidade de rebanho”. Desta vez, no depoimento, Osmar Terra apontou a vacinação como eficaz para a imunização da população, sem deixar de lado a imunidade por infecção. O presidente da CPI, Omar Aziz (PSD-AM), também criticou as declarações. Para ele, quem incentivou remédio sem eficácia, foi contra isolamento e apostou na imunidade de rebanho é “cúmplice das mortes”.

Terra afirmou que foi convidado a participar da CPI “por ter uma opinião, uma posição”, criticou as medidas de restrição adotadas por governadores e prefeitos, apesar da orientação de autoridades sanitárias. “As pessoas ficaram em casa e fecharam suas lojinhas enquanto os serviços essenciais estão funcionando… Não tem isolamento. A aglomeração em ambiente fechado é o grande local de contágio, mas isso acontece em todas as casas. Se o isolamento funcionasse, não morria ninguém em asilo.”

Osmar Terra negou a existência de um “gabinete paralelo” de aconselhamento ao presidente da República sobre a condução da pandemia, um grupo de pessoas com poder de influência sobre Bolsonaro que teria ajudado a definir estratégias e atitudes contestadas para o combate ao vírus no País, como a defesa de medicamentos sem eficácia para a covid-19 e a disseminação de teses como a da imunidade de rebanho e a do isolamento vertical.

Terra não respondeu se conversou com o presidente a respeito da imunidade de rebanho, também citada por Bolsonaro em falas públicas e afirmou que “isolamento vertical” foi um termo cunhado pelo próprio Bolsonaro. “O presidente fala o que ele quer falar. Eu não tenho poder sobre o presidente. Isso não existe. Ele ouve todo mundo. O presidente pode fazer isso. Isso não significa que tem gabinete paralelo, não tem. É uma falácia.”

Osmar Terra também se antecipou ao comentar as previsões “furadas” feitas por ele no ano passado, quando disse, por exemplo, que a pandemia duraria 14 semanas e seria menos grave do que a H1N1. Ele criticou, por outro lado, em “estudos apocalípticos” sobre o número de óbitos. “As previsões que eu fiz não foram baseadas num estudo matemático apocalíptico como do Imperial College, mas aos fatos que existiam na época. Em fevereiro e março, os fatos concretos eram a epidemia da China. Ela começou, subiu, desceu e terminou. Tem 4 mil mortos na China até hoje. Isso nos levou à ideia de que não seria tão grave.”

O relator da CPI, senador Renan Calheiros, questionou Terra sobre as previsões erradas acerca da pandemia do coronavírus. “‘Nenhum dos seus prognósticos se realizou. A pandemia se concretizou num cenário compatível com as previsões mais sombrias.” Terra não respondeu objetivamente: “Falei de acordo com a minha experiência. A melhor forma de salvar vidas é como aconteceu com todas as outras pandemias”.

Fonte: Estadão

fim-visualizacao-noticia