O Governo do Rio Grande do Norte vai iniciar em breve a busca por novos recursos para fazer, mais uma vez, um projeto para requalificação da Avenida Engenheiro Roberto Freire, uma das principais vias da Zona Sul de Natal e de acesso ao litoral sul do Estado. As discussões sobre a obra se arrastam há pelo menos 10 anos.
O processo voltou à estaca zero após a gestão estadual perder a chance de utilizar na obra R$ 78 milhões que já estavam assegurados para as intervenções – parte pelo Governo Federal e parte por um contrato de financiamento junto à Caixa Econômica Federal. Com a demora em começar a obra, o recurso foi perdido.
Segundo o diretor-geral do Departamento de Estradas de Rodagem (DER-RN), Manoel Marques Dantas, o prazo final para utilização dos recursos, que já tinha sido prorrogado pelo Governo Federal duas vezes, era 31 de julho do ano passado. Como as intervenções não foram iniciadas, o convênio foi desfeito e o Estado terá agora de pleitear novamente a verba.
Os R$ 78 milhões estavam divididos em R$ 45 milhões de repasse direto do Governo Federal, por meio de uma linha específica para obras ligadas à infraestrutura para a Copa do Mundo de 2014, e em R$ 33 milhões de um contrato de financiamento que o Governo do Estado fechou com a Caixa.
Para que a obra finalmente saia do papel, a esperança do governo estadual é que a proposta seja incluída em um dos programas do Ministério do Desenvolvimento Regional. Segundo Manoel Marques Dantas, o ministro Rogério Marinho se comprometeu com a governadora Fátima Bezerra (PT) a estudar uma forma de restabelecer a verba que foi perdida.
Projeto
Antes disso, contudo, o Estado terá de definir qual projeto será executado. Em entrevista nesta terça-feira (13) ao programa “12 em Ponto 98”, da 98 FM, Manoel Marques Dantas registrou que o projeto de obra na Roberto Freire já passou por inúmeras mudanças. O diretor do DER-RN argumenta que o serviço só não foi iniciado por falta de consenso sobre o projeto.
Empresários reclamam que o projeto originalmente pensado para a Avenida Roberto Freire prejudicaria o comércio local. O temor dos comerciantes é que, se a avenida for transformada em via rápida, o acesso aos estabelecimentos seja dificultado – o que pode reduzir o faturamento.
Além disso, ambientalistas defendem que a obra não avance sobre a região do Parque das Dunas, de modo a preservar toda a área de proteção. Por fim, movimentos de ciclistas e pedestres cobram que a via seja acessível para todos os públicos, e não apenas para motoristas de automóveis.
Com tantos interesses afetados, o projeto de requalificação da Avenida Roberto Freire foi alterado pelo menos três vezes de forma significativa. Ao fim das discussões, o DER-RN tentou executar o projeto original, que previa três trincheiras ao longo da via, mas nem isso foi possível fazer. Túneis foram descartados.
“Bateu no interesse de todo mundo, no cara que tem um barzinho… Infelizmente, não se conseguiu, durante 10 anos, consenso para a obra”, registrou Manoel Marques Dantas.
Segundo o diretor-geral do DER-RN, a determinação da governadora Fátima Bezerra é resolver de forma definitiva o impasse, conciliando os interesses de todos, principalmente dos usuários da via. “A governadora decidiu fazer o que a sociedade quer”, enfatizou. Para isso, contudo, primeiro é preciso garantir verba. “Vamos ter que arrumar dinheiro para fazer projeto”, afirmou.
Sobre o aproveitamento dos projetos anteriores, o diretor-geral do DER-RN afirmou que alguns pontos podem ser recuperados, mas que é preciso pensar a obra praticamente do zero a partir das opiniões da sociedade. Manoel Marques enfatizou, inclusive, que um dos projetos realizados ainda não foi pago – os valores estão sendo reivindicados na Justiça.
Impacto no trânsito e no comércio
Durante a entrevista, Manoel Marques Dantas criticou grupos que são contra a obra na Avenida Roberto Freire. Ele afirmou que as intervenções vão trazer mais benefícios para a coletividade do que prejuízos. O diretor do DER-RN condenou, ainda, quem compara a obra da Roberto Freire com a intervenção realizada na Avenida Nevaldo Rocha (antiga Bernardo Vieira) em 2007, que criou um corredor exclusivo para ônibus.
“Eles usam como argumento a Bernardo Vieira. Eu acho que não se compara. Quem era comerciante (na Bernardo Vieira)? Eram pessoas que não tinham visão do todo da sociedade. Quanto se diminuiu com a faixa exclusiva? Quanto se reduziu o tempo de viagem da Zona Norte, uma população enorme que só tem aquele corredor?”, disse.
Assista à entrevista na íntegra: