A primeira medalha do Brasil no boxe nos Jogos Olímpicos de Tóquio 2020 veio pelas luvas de Abner Teixeira. Não foi do jeito que o brasileiro queria, mas foi especial. O atleta foi derrotado pelo cubano Júlio Cesar La Cruz na semifinal da categoria peso pesado masculino, entre 81 e 91 quilos, na manhã desta terça-feira. Como o boxe não prevê a disputa pelo bronze, os derrotados na semifinal já garantem o terceiro lugar no pódio. Foi o caso de Abner, que vê na medalha o caminho para seu maior objetivo: comprar uma casa para sua mãe. Foi a 13ª medalha do Brasil no Japão, a sétima de bronze.
Abner nasceu em Osasco, na região metropolitana de São Paulo, mas tem como lar atual a cidade de Sorocaba, a 100 quilômetros da capital, para onde se mudou em 2011. No mesmo ano, aos 15 anos de idade, descobriu a luta através do projeto social “Boxe – uma luz para o futuro”. Ele relata que, na época, se sentia sedentário e buscou o esporte porque queria algo para “se mexer”. Primeiro tentou o basquete, mas logo o projeto social o atraiu para o boxe. “Participei de uma peneira com mais de 70 atletas e passei”, diz. Até hoje ele agradece ao professor Vladimir Godoi, seu primeiro treinador de boxe que também o ensinou a importância dos estudos. É por causa dele que hoje, aos 24 anos, Abner tem o desejo de cursar educação física na universidade. “Não tinha pretensão nem de ser atleta e nem de fazer faculdade, mas ele me instruiu a querer as duas coisas”, relata.
Com mais de 1,90m, Teixeira logo virou uma referência brasileira na categoria peso pesado, acima de 91 quilos. Foi bicampeão brasileiro juvenil e na elite. Em 2019, disputando o Pan de Lima, saiu com a medalha de bronze. Foi então que percebeu que o esporte poderia ajudar não só a combater o sedentarismo, mas também a dar proporcionar uma vida melhor para a sua família.
O pugilista não esconde que seu maior objetivo é dar uma casa para a mãe, Izaudita Sampaio. “Estou trabalhando para isso, comprar uma casa para minha mãe. Ela nunca teve uma casa própria e quero dar essa alegria para ela. As metas imediatas são ser campeão olímpico e campeão mundial”, disse antes de perder a semifinal. “A longo prazo, elas são comprar a casa para minha mãe e dar um futuro melhor para ela”. Com a medalha de bronze, Abner embolsa cerca de 300.000 reais, além dos possíveis contratos de patrocínio e Bolsa Pódio, o auxílio do Governo federal garantido a atletas que estejam entre os 20 melhores do mundo em sua categoria. Do lado da mãe, nervosismo: dona Izaudita conta que assistiu à luta que garantiu a medalha de bronze ao filho, nas quartas de final, ajoelhada e orando. “Eu falo que o meu coração está bom porque é pressão total. E eu só consegui me levantar na hora que acabou a luta”, brincou a moradora de Sorocaba.
A vitória à qual Izaudita se refere foi contra o palestino Hussein Iashaish, pelas quartas, que valeu uma vaga na semi. Antes, Abner já havia vencido o britânico Cheavon Clarke. A derrota para La Cruz interrompe a trajetória pelo ouro, mas não muda os planos do brasileiro. “A medalha olímpica vai abrir vários caminhos. Posso terminar as Olimpíadas e ir para a de 2024, posso passar para o profissional e lutar por um título mundial profissional. Essa medalha olímpica vai realmente mudar a minha vida”, projetou ele antes de lutar a semi.
A medalha do pugilista confirma o bom momento que o Brasil vive no esporte olímpico. Depois de ter vencido um bronze apenas em 1968, com Servílio de Oliveira, o boxe brasileiro voltou a dar as caras em 2012, com medalhas para os irmãos Esquiva e Yamaguchi Falcão, além de Adriana Araújo. Em 2016, o primeiro ouro veio com Robson Conceição no Rio de Janeiro. Além do terceiro lugar confirmado para Teixeira, os pugilistas Hebert Conceição e Beatriz Ferreira também já garantiram ao menos um bronze, mas ainda lutarão as semifinais para ver tentar chegar à medalha de ouro.
Com informações El País