A Prefeitura do Rio planeja espalhar 13 palcos pela cidade no próximo réveillon, três deles em Copacabana. O município divulgou nesta sexta-feira (6) os cadernos de encargos para a festa. Os documentos servem de guia para empresas interessadas em patrocinar a virada para 2022, em troca de expor sua marca.
A divulgação dos cadernos pela Riotur não necessariamente garante os festejos em 31 de dezembro. “As comemorações do réveillon estão condicionadas ao cenário epidemiológico da pandemia na capital”, pontuou a prefeitura. Os documentos da Riotur não definem esses critérios.
Até esta sexta-feira, a capital tinha imunizado 80% dos cariocas adultos com uma dose ou a dose única, mas os estoques de vacinas estavam baixos e dariam apenas para esta semana. Em paralelo, o prefeito Eduardo Paes (PSD) prorrogou até o dia 23 a proibição de boates, pistas de dança e eventos com aglomeração.
Na última virada, justamente por causa do coronavírus, não houve queima de fogos na orla, e poucas pessoas saíram de casa.
Dois bairros ganham festa
Além dos tradicionais três palcos em Copacabana e das balsas com os fogos de artifício, a prefeitura quer fazer eventos em:
- Boulevard Olímpico, ponto inédito em réveillons;
- Praça Guilherme da Silveira, em Bangu, também inédito;
- IAPI da Penha;
- Praça Paulo da Portela, no Parque Madureira;
- Praia do Flamengo;
- Praia da Moreninha, em Paquetá;
- Praia da Bica, na Ilha do Governador;
- Praia da Capela, em Guaratiba;
- Praia de Sepetiba;
- Piscinão de Ramos.
Outra novidade para a chegada de 2022, segundo o projeto da prefeitura, é o retorno da queima de fogos à Igreja da Penha.
Os parceiros escolhidos ficam responsáveis pela criação, desenvolvimento do projeto, planejamento, execução e prestação de contas. Em contrapartida, terão permissão de uso da marca na realização do réveillon.
De acordo com a Riotur, duas licitações ainda serão abertas para a contratação das empresas responsáveis pelas balsas e pela queima de fogos.
‘Maior réveillon da história’, diz Paes
O prefeito disse na semana passada que o réveillon será o “maior da história da cidade” e que o carnaval, se tudo caminhar como o previsto, será realizado.
“Nós estamos programando diante dos dados – aí, desculpe, são os epidemiologistas que podem nos dizer – que a gente vai ter, sim, réveillon e carnaval.”
Plano de reabertura
Fase de reabertura no RIo — Foto: Reprodução
Também na semana passada, a prefeitura apresentou um plano gradual de flexibilização das medidas de restrição na cidade. Serão três etapas, de 2 de setembro até 15 de novembro, e uma celebração de quatro dias no início do mês que vem.
2 de setembro:
- liberação de eventos em ambientes abertos;
- estádios: 50% do público com vacinação completa;
- boates, casas de shows e festas em áreas fechadas: 50% do público também vacinados com 1ª e segunda dose.
17 de outubro:
- estádios: 100% do público com vacinação completa;
- boates, casas de shows e festas em áreas fechadas: 100% do público com vacinação completa.
Os eventos terão checagem de situação vacinal das pessoas, com o aplicativo Connect SUS, do Ministério da Saúde, segundo o secretário de Saúde, Daniel Soranz. Quem não tiver sido vacinado, será barrado.
15 de novembro:
- uso de máscara obrigatório só no transporte público e em unidades de saúde;
- livre circulação, sem restrição de capacidade e distanciamento.
Segundo o prefeito Eduardo Paes, a reabertura será acompanhada de uma celebração de quatro dias, entre 2 e 5 de setembro, em toda a cidade .
Na ocasião, Paes disse que o planejamento é otimista e conservador ao mesmo tempo.
“Se houver necessidade, se o secretário de Saúde chegar para mim um dia e falar que não dá porque aumentou ou chegou uma nova variante, imediatamente a gente interrompe qualquer processo de abertura e pode impor novas medidas restritivas (…) Tudo indica, nesse momento, os dados, internações, óbitos, que a gente vive um momento melhor. Não é um momento ideal ainda, por isso as restrições continuam e a abertura é gradual”, disse.
Entre 2 e 5 de setembro, a prefeitura prevê:
- fechamento de ruas para o trânsito;
- eventos em pólos gastronômicos;
- DJs em pontos da orla;
- iluminações e projeções;
- apresentações musicais;
- ponto facultativo no dia 3 de setembro (sexta-feira);
- manifestações culturais e artísticas em centenas de pontos com priorização de artistas locais;
- meia entrada nos principais pontos turísticos da cidade;
- mapping e orquestra nos Arcos da Lapa;
- programação especial nas cidades das Artes e do Samba;
- atividades em todas as vilas olímpicas da cidade;
- meditação, tai chi chuan e ioga em praças e parques;
- Taça Renasce Rio: partida comemorativa (“de preferência no Maracanã”, diz Paes) com 50% do público;
- campeonato de futebol solidário em comunidades;
- Jogos de Botequim.
O que dizem especialistas
Especialistas viram com cautela as medidas propostas e dizem que o comitê científico não foi consultado. A Secretaria Municipal de Saúde afirmou que só alguns membros foram ouvidos.
Para Roberto Medronho, infectologista e epidemiologista da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), liberar estádios para 100% a partir de outubro é “muito complicado”.
“O plano proposto pela prefeitura eu considero no mínimo uma temeridade. Nós temos agora a variante delta no nosso país, e espalhando inclusive no Rio de Janeiro. Nós temos uma boa cobertura vacinal no município, mas não temos certeza de que a efetividade da vacina seja a mesma do que das cepas anteriores do vírus. Então, a briga, agora, nós podemos ter problemas de aumento da transmissibilidade da doença”, diz o infectologista.
A pneumologista Margareth Dalcomo, da Fiocruz, diz que entende a intenção da prefeitura, mas vê com preocupação as medidas:
“A intenção da prefeitura é a melhor possível no sentido de trazer um pouco de alegria no momento em que passou um ano e meio de muito luta, perda, tristeza, um impacto sobre toda a população, entendo que do ponto de vista de agregar, de fazer algo coletivo agradável sem duvida nenhuma. Alerto que isso tudo tem um risco, um risco que é razoavelmente calculado e um risco que é fora de controle, sem duvida nenhuma.”
“O vírus permanecerá endêmico entre nós por muito tempo, de modo que eu manteria cuidados. Alertaria a opinião pública para que tivesse muito cuidado com aglomerações, cuidado com lavagem, cuidados pessoais e coletivos ainda por todo o ano de 2021, seguramente”, disse Dalcomo.
A especialista lembrou que a variante delta da Covid já está circulando mas, embora tenha melhorado o ritmo de vacinação, a dinâmica de imunização ainda está longe de uma situação de cobertura (vacinal), que ela afirma ser de 80% da população vacinada.
“Seria aquele [percentual] que eu, particularmente, consideraria confortável para que procedêssemos a algumas aberturas”, opinou Dalcomo.
A pneumologista reforçou a recomendação de uso de máscara. Segundo ela, o uso do item é fundamental sobretudo em ambientes fechados, e não só em estabelecimentos de saúde – como hospitais, UPAs etc.
“Olha o que aconteceu com países que liberaram… Já voltaram atrás por força da transmissão de cepas muito contagiantes, como nós sabemos. (…) Eu não liberaria de modo algum o uso de máscara em qualquer ambiente, a não ser em ambiente ao ar livre”, alertou Dalcomo.
Com informações G1