Por Renato Cunha Lima
No sincretismo religioso brasileiro, que associa a crença nos orixás aos santos católicos, um dos mais tradicionais é o costume umbandista de presentear com doces, balas e guloseimas as crianças no dia de São Cosme e Damião.
Os orixás Ibejis, filhos de Xangô e Iansã e denominados protetores das crianças, foram associados aos santos gêmeos Cosme e Damião, que ficaram conhecidos em vida por prestar assistência médica aos pobres e aos animais sem custo.
Na fé católica, Cosme e Damião são conhecidos como protetores dos médicos, enfermeiros e farmacêuticos, mas ganhou a fama no sincretismo religioso de protetores das crianças.
Dito isto, tenho a crença que foram os santos gêmeos que protegeram as crianças uruguaias vítimas de uma chuva de balas, não de doces e guloseimas, mas de balas desferidas por pistola e revólver.
Neste caso não é necessário ser devoto de qualquer religião ou mesmo de alguma
ideologia para constatar a intenção assassina que deixaram marcas de 10 balaços na residência dos adolescentes uruguaios.
Entretanto, o atirador, o tal Ivênio Hermes, que dizem que surtou, que baixou um santo ruim, tem proteção, pense num homem protegido. Depois do “bang bang” sequer foi algemado e conduzido numa viatura policial para a delegacia, o “bacana” chegou em carro particular com celular na mão.
Na delegacia, mesmo depois de invadir uma residência e desferir 10 tiros contra crianças, o então coordenador da Secretaria de Segurança Pública do Rio Grande do Norte, conseguiu o “milagre” de ser indiciado apenas por ameaça e disparos de armas de fogo. Que beleza!
Depois a sociedade ficou sabendo, através da imprensa, que o dito cujo, o homem das estatísticas criminais é aposentado por invalidez da Polícia Rodoviária Federal por questões psiquiátricas.
Alguém me diz o nome santo para o milagre do Ivênio Hermes ter assumido um cargo na segurança pública potiguar? Opa, nem arma ele poderia ter mais, pois um dos pré-requisitos é exatamente a sanidade mental.
O abençoado do Ivênio Hermes tem muitos outros santos protetores, até o Ministério Público que costuma ser tigrão com muita gente, acabou sendo tchutchuca, na prática pareceu defensoria pública quando defendeu a redução do valor fiança para a soltura.
Por sua vez, as vítimas, os adolescentes ficam à mercê do infortúnio de ter um vizinho “doido”, livre e solto, a lhes ameaçar. Nada o poder público fez para protegê-los. Os meninos só podem contar com a proteção divina e a intercessão de Cosme e Damião.
Só digo uma coisa para os adolescentes, caso queiram traquinar outra vez e apertar campainhas de residências, escolham a minha e serão recebidos com balas, as doces e azedinhas. Quem não foi traquino não teve infância, antes toda molecagem fosse inocente assim. A molecagem que incomoda não é essa.