Por Alexandre Macedo
A teimosa dicotomia entre esquerda e direita tem prejudicado o mundo, especialmente aos países em desenvolvimento.
A esquerda luta por um Estado grande e forte, o que o torna sempre oneroso e lento. Esse Estado intervém em tudo e domina ou enrijece o sistema produtivo.
A narrativa política é do cidadão mais protegido pelo poder intervencionista do Estado, que combate o lucro individual e o divide com o coletivo.
A direita quer um Estado mínimo, sem poder de intervir no mercado a ponto de impor regulações excessivas ou mesmo tolher a liberdade nas relações capital e trabalho, deixando que tudo ou quase tudo seja resolvido pelo mercado, pelas leis da oferta e procura, inclusive no especialíssimo mundo do emprego.
A narrativa aqui é o cidadão mais livre do Estado no tocante ao seu crescimento econômico e a proteção da sociedade ao peso do Estado inchado, caro e dominante, e suas consequências.
No meio dessas duas teorias econômicas e usando de um pêndulo que horas balança para um lado e em outros momentos se aproxima mais do outro, sendo aqui os dois lados, suas ideias e seus personagens, vistos como extremistas, existe o centro, que defende um equilíbrio entre as duas formas de modelar as relações econômicas entre pessoas, empresas e governos.
O centro deve significar, exatamente, o meio-termo entre a supremacia do Estado, com a prevalência da pseudo equidade entre as classes ou a predominância das regras de mercado, onde o lucro, definitivamente, é o maior ou quase, o único objetivo.
Esquerda e direita enfrentam sérias adversidades quando exercem o poder em um país profundamente desigual, como o Brasil.
Não adianta achar que o inchaço e o aparelhamento político do Estado e sua forte regulação na economia favorece a liberdade das pessoas na luta pelo crescimento dos seus legítimos níveis de satisfação.
Muito menos é racional se entregar ao mercado o domínio absoluto da condução das relações econômicas e sociais de um povo que sequer distingue as teorias econômicas, muitas vezes as confundindo com ditadura e democracia. Esse tema gera uma longa discussão e infelizmente aqui não teremos essa oportunidade.
Mas e o que tem essas teorias econômicas a ver com o centrão brasileiro, esse ajuntamento de partidos que, mais uma vez, sobe ao centro do tabuleiro político nacional?
Pra começar, temos de reconhecer que, sempre mudando de nome e personagens, o centrão é uma das maiores excrescências da política brasileira e, provavelmente, um grande fator de desgaste da classe política nacional. O centrão não tem ideologia, não tem causa, nem consequência, não representa, com densidade substancial, nem ao próprio centro político, aquele que já nos referimos como um polo que defende o meio-termo entre esquerda e direita.
Essa anomalia política pode, em um determinado momento, ser centro-esquerda. Pode também, em outro momento, se parecer com o centro-direita.
Na verdade, o centrão é mesmo a união de políticos que sempre lutam para estar ao lado do poder, seja ele quem for, sendo essencial ao poderoso e um risco iminente de sua perda do cargo. Aí está a grande ciência do centrão: fazer o poder executivo entender que, sem ele, o centrão, nenhum poder é permanente ou duradouro. Nenhum poder permanece poder.
O centrão faz o poder viver pensando: ruim com ele, pior sem ele.
Para dar atualidade a esse texto, vamos deixar clara a fortaleza do centrão no atual governo brasileiro.
Centrão que foi enxotado na campanha do atual Presidente da República, ao ponto do Ministro General Heleno, tido à época como o conselheiro mais equilibrado e prestigiado de Bolsonaro, dizer cobras e lagartos sobre o centrão. E era aplaudido por muitos adeptos à candidatura do capitão. Vários outros apoiadores do então candidato Jair Bolsonaro, descartavam o modo de fazer política encarnado por esse grupo sempre existente no Congresso Nacional.
Chegaram até a dizer que a vitória do candidato Jair Bolsonaro inauguraria, de forma verdadeira, uma nova política.
Para se ter ideia de como a canoa política vira a depender das ondas, hoje, o centrão nem se incomoda com o que pensa ou externa o general Heleno, que anda pelo Palácio do Planalto sem ter certeza nem para onde está indo o seu antigo pupilo.
Muito menos, o centrão se interessa pelo discurso do ex-candidato Jair Bolsonaro, aquela narrativa que criaram para ganhar a eleição. Isso é coisa do passado e não tem nada a ver com o presente.
O que o centrão sabe e comemora com louvor é que chegou lá. Lá onde há muito tempo gostaria de ter chegado, aliás, nunca gostaria de ter saído.
O centrão não suporta nem os intervalos obrigatórios formados pelo tempo da campanha, onde são escrachados pelo futuro vitorioso e a hora em que são chamados a fazer parte da corte.
Etapa concluída, é hora de dar as cartas do jogo, com o dono do cassino vendo os velhos jogadores tomarem conta das roletas.