Array
(
    [0] => inicio-noticias
    [1] => coluna-inicio-noticias-arthurdutra
)

Arthur Dutra

[OPINIÃO] O encontro de Rita de Cássia com os gigantes da cultura nordestina

Cantora e compositora Rita de Cássia morreu nesta semana, aos 50 anos - Foto: Reprodução

O Nordeste brasileiro já entregou ao Brasil uma interminável e lendária lista de grandes artistas. De todos os estilos, de todas as artes. Desde aqueles antigos cantadores, que adaptaram as velhas histórias orais trazidas de Portugal e da Espanha, até os artífices da xilogravura, passando pelos músicos, compositores, escritores, atores, folhetistas, repentistas, aboiadores, enfim, tantos artistas que extraíram do chão nordestino, da pele, do coração e da alma do seu povo a inspiração para fazer arte em meio ao ambiente quase sempre inóspito da região.

Sem desmerecer outras regiões do Brasil, mas é no Nordeste onde se tem a mais rica, diversa, profunda e antiga produção cultural com o DNA brasileiro.

Já nos idos do século XIX esses grandes artistas populares, a maioria analfabetos, vageavam pelas veredas dos Sertões cantando em verso. O cearense Leonardo Mota, o grande pesquisador de cultura nordestina, foi quem primeiro saiu a recolher e registrar essa riqueza civilizacional, deixando quase tudo registrado no seu monumental livro “Violeiros do Norte”. Nomes como o dos cantadores paraibanos Francisco Romano e Inácio da Catingueira foram eternizados e devidamente reconhecidos nessa obra fundamental para conhecer a arte do Nordeste.

Câmara Cascudo, claro, também pesquisou e recolheu diversos outros versos que circulavam apenas oralmente pelos sítios e feiras do Sertão. Em “Vaqueiros e Cantadores”, Cascudo apresentou ao público das grandes cidades o fabuloso potiguar Fabião das Queimadas, ex-escravo, analfabeto e poeta. Um patrimônio do Rio Grande do Norte!

Luiz Gonzaga, o maior de todos os artistas populares, tão grande que superou a barreira do elitismo para inundar o Brasil de Sertão.

Ariano Suassuna, em sua vastíssima obra, também deu valor aos simples poetas nordestinos quando se inspirou em diversos folhetos de cordel para compor sua peças e romances.

Trago esses exemplos, sem a intenção de que sejam os únicos, para mostrar que a arte sertaneja tem uma longa tradição, que se conecta de maneira profunda e indissociável com a terra nordestina e sua gente. E essa tradição está sempre a se engrandecer com novos artistas. Mas ontem, infelizmente, perdemos prematuramente uma grande artista que entrou pela porta da frente nesse seleto clube: Rita de Cássia.

Sim, ela faz parte dessa tradição. Suas músicas fazem a fotografia do sertão do seu tempo, que tem suas constantes com os sertões do passado, mas com novos elementos, novos personagens, mas também com a mesma essência que faz desta terra fascinante em todos as aspectos. Não sei se Rita de Cassia sabia disso, mas o verdadeiro artista é aquele cuja obra toca fundo no coração das pessoas. Ela conseguiu isso. E por ter sido capaz desse grande feito, Rita de Cássia foi, é, e sempre será amada pelo povo.

Minha singela homenagem a você, Rita de Cássia, que neste momento deve estar se encontrando com os grandes artistas nordestinos do passado, e para eles podendo olhar de igual para igual.

Caiu a República! Estátua do Centenário da Independência tomba em Natal no ano do Bicentenário

Por Arthur Dutra

Em 2022 o Brasil celebrará o Bicentenário da Independência, ocorrido em 7 de Setembro de 1822 pelas mãos e garganta de D. Pedro I, no famoso Grito de Ipiranga. Até agora, infelizmente, pouco se sabe da programação oficial da comemoração desse importante momento histórico.

Por ocasião do Centenário da Independência, em 1922, ao contrário, muitos foram os festejos realizados pelo Brasil afora, inclusive com a inauguração de diversos monumentos nas cidades brasileiras. Curiosamente, porém, tais monumentos tinham quase sempre simbologia republicana, muito embora a Independência tenha sido uma obra política do nascente Império brasileiro. D. Pedro I, não é preciso lembrar, era um monarca, e não um presidente da república, e o que veio depois também não foi uma República, e sim uma Monarquia. O Centenário da Independência, como se sabe, foi também uma ocasião para substituir no imaginário do país a lembrança do Império, derrubado em 1889, e exaltar os símbolos do novo sistema republicano implantado há apenas 33 anos. Mas isso é assunto para outro momento.

Natal, claro, também deixou vestígios do Centenário da Independência no nosso território. Um deles, talvez o mais famoso, era justamente o Monumento à Independência, chantado na Praça Sete de Setembro, na Cidade Alta, em 1922. A estátua remete à Marianne, símbolo da República, uma imagem produzida na Revolução Francesa e que até hoje estampa também as notas de Real que circulam no país.

Pois bem.

No ano em que celebraremos o Bicentenário da Independência, o monumento alusivo ao Centenário erigido em Natal simplesmente CAIU, foi ao chão, tombou, deteriorado pelo tempo ou vandalizado, não sabemos ainda. Qualquer que tenha sido o motivo, isso diz muito sobre a forma como tratamos nossa história, seja com descaso, seja com a intenção de fraudá-la com finalidades políticas.

Aproveito o ensejo para cobrar das nossas autoridades não só a restauração do Monumento à Independência, mas também a divulgação, se é que existe!, da programação oficial das celebrações do Bicentenário da Independência.

Array
(
    [0] => entre-noticias
    [1] => coluna-entre-noticias-arthurdutra
)

O golpe é manjado, mas está aí. Cai quem quer

Por Arthur Dutra

O cara de pau é atrevido, é ousado. Não tem vergonha de falsear a verdade para criar uma nova versão que se encaixe na sua própria torpeza. É o caso da ação popular ajuizada por deputados do Partido dos Trabalhadores (PT) contra o ex-juiz Sérgio Moro por supostos danos à Petrobras e à própria economia do país ao longo da Operação Lava Jato.

A ação não passa de uma peça fajuta de propaganda, que tem como finalidade 1) tentar reescrever a história recente do país com a descarada inversão de papéis, e 2) assediar judicialmente o ex-juiz, que hoje é uma figura enfraquecida no cenário público e, portanto, uma “presa fácil”, já que poucos, hoje em dia, estão dispostos a fazer sua defesa. As torcidas organizadas estão arrebanhadas em torno de outros personagens, que inclusive ganham muito com essa farsa.

Mas o que essa ação fuleira não conta, numa omissão proposital e cafajeste, é a extensão colossal dos esquemas de corrupção que estavam entranhados na Petrobras na época dos governos petistas e que resultaram, estes sim, num bilionário prejuízo para a companhia. Os números são bem conhecidos.

O Ministério Público Federal do Paraná contou os dinheiros que foram devolvidos por réus confessos detectados pela Operação Lava Jato. A cifra é tão verdadeira quanto assustadora: R$ 25 bilhões já foram devolvidos para os cofres da União e da Petrobras.

Tudo isso é fruto de 43 acordos de leniência pactuados com empresas que tinham contratos fraudulentos com a Petrobras; e 156 delações premiadas de empresários e ex-diretores da estatal que confessaram crimes, indicaram outros participantes do esquema e devolveram dinheiro.   

Certamente esses dados não estão elencados na ação patrocinada pelos parlamentares petistas. Mas o que eles esperam com esse tipo de postura não é nem limpar o passado do partido, que está irremediavelmente sujo, e sim turvar a vista dos incautos com a lama que retiram do seu próprio corpo. É como se diz popularmente, com uma adaptação: o golpe é bem manjado, mas está aí. Cai quem quer.

Ingresso caro para um jogo sem futuro

Caso não aconteça algum fato bizarro, o que se tornou bem comum no Brasil de hoje, a semana promete dar destaque a mais um capítulo da guerra de narrativas entre governo federal e governadores em torno da questão do preço dos combustíveis, especialmente o diesel. Isto porque, na noite de sexta feira, o ministro André Mendonça, do STF, deferiu uma liminar para suspender o convênio pactuado entre secretários de Fazenda dos estados que disciplinava a cobrança a alíquota única sobre o óleo diesel.

 Na decisão, Mendonça acolheu integralmente as alegações da Advocacia Geral da União de que os estados, na prática, teriam dado um drible na lei que institui a uniformidade da cobrança do ICMS sobre o diesel, através da possibilidade dos estados ofertarem descontos, ocasionando a manutenção do mesmo sistema que hoje vigora, já considerando o congelamento da base do preço médio que é utilizado como base de cálculo do ICMS do diesel.

Os estados alegam, porém, que essa sistemática teria causado uma perda da ordem de R$ 16 bilhões, sendo esta a cota de sacrifício que poderiam arcar, dado que a receita do ICMS é o grosso da arrecadação e, assim, necessária para honrar com suas despesas.

A decisão de André Mendonça, inclusive, transcreveu quase na íntegra um ofício encaminhado pelo presidente do Senado Federal, Rodrigo Pacheco, ao CONFAZ, que é o colegiado que reúne exatamente os secretários de Fazenda, autor do convênio cuja validade foi derrubada pelo ministro.

Neste ofício, o presidente do Senado recomenda aos Secretários de Fazenda dos estados “que reconsiderem a definição sobre a nova sistemática de tributação do ICMS sobre os combustíveis, de modo a privilegiar a justiça tributária e o interesse público, as expectativas do consumidor e a determinação do legislador, com vistas a redução final dos preços cobrados do consumidor”.

Rodrigo Pacheco, que ajudou a articular a aprovação da lei que instituiu a alíquota única, está a cobrar uma mudança de entendimento do CONFAZ, mesmo sabendo que isso de muito pouca utilidade terá para baixar de maneira significativa o preço do diesel, mas por outro lado poderá implicar num prejuízo maior aos cofres estaduais, que é o que alegam os secretários. Como bom político, imerso no reino das narrativas, Pacheco também precisa pelo menos mostrar que está fazendo alguma coisa.

A bola está de novo em campo e, a julgar pela parte final da decisão de Mendonça, caberá à política resolver o impasse, como o próprio ministro fez questão de destacar ao reconhecer que “a complexidade e relevância da questão justifica a urgência para que, a partir de tal decisão, se dê início imediato à construção de uma solução efetiva, perene e consentânea com os parâmetros constitucionais reguladores da matéria”.

A semana anuncia novos embates entre governo federal, na pessoa do presidente da república, com os governadores, tendo como mediador o presidente do Senado. O STF aqui vai fazendo o papel de VAR, e o consumidor brasileiro, espectador de uma “pelada” sem futuro, continua pagando o ingresso, que está cada vez mais caro, por sinal.

Array
(
    [0] => entre-noticias
    [1] => coluna-entre-noticias-arthurdutra
)

Cascudo sobreviverá!

Estátua de Câmara Cascudo vandalizada por um ignorante desconhecido

O ato de vandalizar estátuas de antigas figuras infelizmente chegou a Natal. O alvo por aqui foi o monumento em homenagem a Luís da Câmara Cascudo, pesquisador, historiador, folclorista, etnógrafo, dentre outras atividades intelectuais a que se dedicou durante sua longa e produtiva vida, sempre residindo no seu velho sobrado entre a Ribeira e a Cidade Alta.

Os agressores se dizem antifascistas e atacaram a estátua de Cascudo pintando suas mãos de vermelho. Mas são eles os verdadeiros fascistas, tão cegos de ideologias exóticas que sequer conseguem enxergar a importância da monumental obra de Cascudo, o maior pesquisador, divulgador e entusiasta da cultura popular brasileira, que se caracteriza justamente pela pluralidade e respeito às diferenças.

Que tais agressores sejam exemplarmente punidos, pois esquecidos serão em curtíssimo espaço de tempo. Aliás, até mesmo esse ambiente político tóxico que infecta os ares do Brasil e motiva agitadores a cometerem barbaridades como esta, tudo isso um dia também passará. Mas Cascudo, este sim, permanecerá, pois tem o que dizer de edificante ao povo brasileiro com sua vasta produção, que é universal e de reconhecido valor.

Em tempo: fica aqui a cobrança para que a Fundação José Augusto, responsável pela gestão do Memorial Câmara Cascudo e, portanto, pela preservação da estátua, providencie a imediata limpeza dessa indignidade.

Array
(
    [0] => final-noticias
    [1] => coluna-fim-noticias-arthurdutra
)