Por Renato Cunha Lima
“O sertanejo acorda o sol
Passarinho nem assobia,
Estrelas salpicando o céu
É seca por mais um dia.
O homem sofrido chora
Ver prato vazio no café,
Mas a alma ainda ora
Catando migalhas de fé.
Não, não secou o coração
Nem desistiu o braço forte
Como um riacho, um ribeirão
Desafiando a própria sorte.
Parte na vontade parida
Resistindo entre espinhos
Sem adeus, sem despedida,
Na fatura de seus sonhos.”
(Minha autoria)
Sou do tempo do carro pipa abastecendo cidades inteiras, sou do tempo da cacimba, da cisterna, do jumento percorrendo léguas para trazer água para matar a sede.
Sou do tempo da morte dos animais por falta d’água, da desnutrição das crianças, do envelhecimento precoce dos homens e mulheres do sertão.
Sou do tempo dos coronéis, dos currais eleitorais, do tempo de um povo de joelhos para os políticos da região.
Sou do tempo do sonho de um nordeste independente, de um nordeste que somente agora começa a deixar de ser sedento de águas, oportunidades e esperanças.
A transposição do São Francisco idealizada no Brasil imperial finalmente avança próxima de sua conclusão e já conta com águas nos estados de Pernambuco, Paraíba, Ceará e agora no Rio Grande do Norte.
— Fui à Caicó e Jardim de Piranhas, Rio Grande do Norte, no evento inaugural das chegadas das águas da transposição, com a presença do povo da região, do Presidente da República e demais autoridades.
— Logo após, fui registrar com meus olhos as águas chegando no Rio Grande do Norte. Fui a Sousa na Paraíba, onde testemunhei as águas caudalosas do rio Piranhas e as comportas abertas na barragem de São Gonçalo para o percurso natural do rio rumo as terras potiguares. É muita água!
— Conversei com o mais humilde sertanejo e com as autoridades, testemunhei um sentimento uníssono de alegria e esperança. Até mesmo por aqueles que não são simpáticos com o atual presidente ou não eram.
Uma obra histórica e abençoada que inunda rios e canais, que inunda de lágrimas os olhos que quem já sofreu as intempéries da estiagem. Muitos sem esperança que um dia as águas do Velho Chico chegassem.
— Chegou! Chegou apesar dos atrasos, da falta de planejamento, do abandono das construtoras e das irregularidades apontadas pelo TCU – Tribunal de Contas da União nos governos petistas, que mais usaram a obra para a transposição de votos que de água.
No breve governo do Michel Temer que as obras abandonadas foram retomadas, especialmente no eixo leste. O projeto foi encurtado e não havia expectativa para a chegada das águas no Rio Grande do Norte.
Com Jair Bolsonaro o Rio Grande do Norte foi novamente incluído, como também o inteligente projeto de interligação de bacias que passou a ser executado. O eixo norte se tornou prioridade e foi no governo Bolsonaro que as águas chegaram no Ceará, na sertão Paraibano e agora no Rio Grande do Norte.
Uma obra do Estado brasileiro, idealizada por Dom Pedro II, que de 2007 para cá, perpassou por vários governos para finalmente levar as águas do Rio São Francisco para os nordestinos.
Uma obra redentora, uma obra do povo que vai melhorar a qualidade de vida de todos, que vai levar dignidade aos mais sofridos, mas também muita oportunidade econômica, com geração de empregos e renda.
— Viva o Nordeste!
— Uma fartura de sonhos para o nosso povo! Um sonho de menino, como disse o saudoso poeta, meu tio, Ronaldo Cunha Lima:
“Quando o grito de dor do nordestino
Unir-se à voz geral do desencanto
Esse eco, de repente, faz um canto
E o canto de repente faz um hino.
E puro como um sonho de menino
Será cantado aqui e em qualquer canto,
Como símbolo, estandarte, como manto
De um povo que busca o seu destino.
Quando esse hino, pleno de ideal,
Canção de um povo em marcha triunfal,
For lançado ao sabor de seu destino
Aí se saberá sem ter espanto
Que um eco de repente faz um canto
E um canto de repente faz um hino.”