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Ao menos 4,2 mil adolescentes sem comorbidade já foram internados com covid-19 no Brasil

Além disso, um em cada três jovens mortos pela doença não tinha nenhum fator de risco, como diabete, obesidade ou síndrome de Down, entre outros. Foto: Sesap

Desde o início da pandemia, 7.063 adolescentes foram internados com covid-19 no Brasil. Destes, 60% eram jovens saudáveis, sem nenhum fator de risco para a doença. O número de óbitos entre pessoas de 12 a 17 anos já chega a 657 e especialistas ressaltam que os sobreviventes ainda precisam se recuperar das sequelas. No Rio Grande do Norte 75 adolescentes foram internados e 6 morreram.

Embora a Agência Nacional de Vigilância Sanitária (Anvisa) e especialistas recomendem a vacinação de todos os adolescentes entre 12 e 17 anos, o Ministério da Saúde decidiu nesta semana desaconselhar a aplicação para os jovens dessa faixa etária sem comorbidade. O ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, admitiu nesta quinta-feira, 16, que o pedido para rever a orientação partiu do presidente Jair Bolsonaro. Cidades e Estados se dividiram sobre seguir a diretriz federal.

“Na pediatria, os adolescentes são o grupo com maior incidência de comorbidades, então são mais acometidos pela covid-19”, diz Isabella Ballalai, vice-presidente da Sociedade Brasileira de Imunizações. A médica afirma que as mortes por covid-19 entre os menores de 18 anos se concentram, principalmente, em adolescentes e bebês com menos de um ano.

Dados do Sistema de Vigilância Epidemiológica da Gripe (Sivep-Gripe) do Ministério da Saúde compilados pelo Estadão mostram que 4.283 adolescentes sem comorbidades foram internados com covid-19 em todo o País. Além disso, um em cada três jovens mortos pela doença não tinha nenhum fator de risco, como diabete, obesidade ou síndrome de Down, entre outros.

Os dados do Ministério da Saúde apontam que 715 gestantes e puérperas menores de 18 anos foram internadas com covid-19 no Brasil. Destas, 38 morreram. A nota informativa do órgão que pede a suspensão da vacinação de adolescentes não menciona as grávidas e nem as puérperas, que deram à luz há menos de 45 dias. As gestantes maiores de 18 anos começaram a ser vacinadas com prioridade em maio.

A maioria das mortes (70%) e das internações (66%) em adolescentes ocorreu entre pessoas de 15 a 17 anos. Entre os mortos, 52% eram pardos, 31% brancos e 4% pretos. Amarelos e indígenas somam 1% cada e outros 11% não declararam raça.

Nesta sexta-feira, 17, a Associação Brasileira de Alergia e Imunologia manifestou sua discordância sobre a decisão do ministério. No dia anterior, os conselhos dos secretários estaduais e municipais de Saúde também criticaram a medida e a forma como o governo federal encaminhou a mudança. No Brasil, a única vacina aprovada para adolescentes é a da Pfizer, usada também em países como Estados Unidos, Israel e na Europa.

Vacinar jovens é importante para frear a disseminação do vírus, diz médica

Em coletiva de imprensa na tarde de quinta-feira, o ministro da Saúde, Marcelo Queiroga, citou mais de uma vez o Reino Unido como exemplo de país que teria desistido de vacinar os adolescentes sem comorbidades. No entanto, o site do sistema nacional de saúde britânico (NHS) diz que pessoas de 16 e 17 anos sem fatores de risco já podem tomar a vacina. Os jovens saudáveis entre 12 e 15 anos serão vacinados em breve nas escolas, segundo o site oficial do governo, e aqueles com comorbidades já estão imunizados.

Isabella diz que é comum observar o que outros países estão fazendo, mas que as conclusões devem ser adequadas para a realidade local. “No Reino Unido, o número de casos de covid em adolescentes sem comorbidades é muito baixo. Por isso, eles escolheram começar pelos adolescentes com comorbidades”, diz.

A médica fala que o Brasil é um País jovem, com uma parte expressiva da população menor de 18 anos, diferentemente de países europeus, por exemplo. Em razão disso, é importante vaciná-los para controlar a disseminação do coronavírus.

Além das consequências diretas da doença, como internação e óbito, Isabella diz que os adolescentes sofrem muito com a parte social. “Os adolescentes socializam muito e estão se arriscando em meio à pandemia. É muito difícil controlar esse grupo. Eles precisam dessa socialização para que possam se desenvolver”, afirma.

Fonte: Estadão


 

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