Em uma rara manifestação pública sobre sua trajetória política após deixar a Prefeitura do Natal, a ex-prefeita e jornalista Micarla de Sousa (2009-2012) falou neste fim de semana sobre a gestão dela na capital potiguar, que terminou mal avaliada por mais de 90% da população, segundo pesquisas de opinião da época.
Em entrevista à rádio Liberdade FM, de Parnamirim, no último sábado (3), a ex-prefeita atribuiu a má avaliação de sua gestão a uma campanha negativa promovida por “grandes e poderosos” que tiveram projetos econômicos frustrados durante a administração. Ela não citou quem seriam os responsáveis.
“Eu não fiz o que os grandes e poderosos queriam que eu fizesse, que eram as grandes obras. Não tinha licitação para as grandes obras. Talvez eu não tenha sido a prefeita que os grandes e poderosos queriam, porque eu não dei as licitações que eles queriam que eu desse. Eu fui cuidar das pessoas, fui cuidar dos pequenos”, afirmou.
A ex-prefeita disse que, durante os quase quatros anos de sua gestão – ela foi afastada no fim do mandato por ordem da Justiça –, priorizou ações sociais e investimentos nos bairros em detrimento de grandes obras, o que contribuiu, segundo ela, para a má avaliação.
Micarla de Sousa destacou medidas como a construção de um albergue noturno, a concessão de bolsas de estudo, ampliação da educação em tempo integral e construção de casas populares como ações sociais prioritárias de sua gestão.
Obras de menor magnitude, mas com impacto social, também foram realizadas na gestão dela, como a construção de UPAs e escolas. Outro ponto alto, ela lembrou, foi a instituição de um plano de cargos, carreiras e salários para os servidores públicos.
Segundo ela, essa opção de gestão lhe custou o mandato.
“Só na minha gestão foi que os 26 mil servidores do Município puderam ter o seu primeiro plano de cargos, carreiras e salários. Ali foram 26 mil servidores que há mais de 20 ano estavam na Justiça. Foi decisão minha enquanto prefeita. Tomei decisão de aumentar todos os meses em quase R$ 10 milhões a folha de pagamento, para fazer justiça com servidores. Imagine o tanto de rua que podia ser calçada por mês, o tanto de plantinha que dava para plantar nos canteiros. Mas eu fiz a opção de cuidar de gente”, enfatizou Micarla de Sousa.
Misoginia
A ex-prefeita lembrou, também, que foi alvo, durante a gestão, de manifestações misóginas. Na época, Micarla enfrentou protestos de rua e pedidos de afastamento na Câmara Municipal e na Justiça por problemas na gestão e acusações de corrupção.
“As pessoas diziam que tinha rua que não foi calçada. Mas, depois de mim, continua tendo buraco, mas ninguém fala ‘ah, é o buraco do prefeito’. Mas, por eu ser mulher, falavam ‘o buraco da prefeita’. Essa coisa de diminuir a pessoa por ser mulher”, ressaltou.
Volta à política
Durante a entrevista, Micarla de Sousa sugeriu que prepara um retorno à política. Perguntada sobre possível candidatura em 2022, ela se esquivou, no entanto. Mas em vários momentos enfatizou que, apesar de estar sem mandato desde 2012, quando deixou a Prefeitura do Natal, continua atuando politicamente. Ela comparou o serviço público como política às ações enquanto missionária evangélica e radialista.
“Borboleta é um ser bonito, leve, que ajuda a ‘polenizar’ as plantas. Ele leva de uma flor para outra. Eu acho muito interessante ser essa ponte”, afirmou, lembrando do apelido que recebeu quando ingressou na política, em 2006, para disputar um mandato de deputada estadual.
Ela afirmou que continuará na política. “Meu pai dizia não existe ex-político. Existe político sem mandato. Eu transmutei. Hoje eu não consigo… Eu sou totalmente serva do Senhor, e para onde ele me mandar é para lá que eu vou. Mas hoje eu termino sendo uma política, mas sendo missionária. Onde eu estou busco ser ponte, levar transformação para onde quer que eu vá. O que eu busco é levar transformação, que eu aprendi com a política”, ressaltou.