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Promotora admite que mudança no Walfredo pode superlotar UPAs e deixar pacientes menos graves sem atendimento

Promotora Iara Pinheiro, do MPRN – Foto: Elpídio Júnior / CMN

A promotora de Justiça Iara Pinheiro, do Ministério Público do Rio Grande do Norte (MPRN), admitiu nesta sexta-feira (20), em entrevista à 98 FM Natal, que a mudança que o Governo do Estado planeja realizar em outubro no Hospital Walfredo Gurgel pode deixar usuários sem atendimento e superlotar as UPAs e demais unidades básicas de saúde.


Segundo a promotora, no entanto, esses pacientes prejudicados têm casos menos graves e, portanto, podem esperar um pouco mais para serem atendidos, se for o caso.


Em entrevista ao programa “12 em Ponto 98”, a promotora defendeu que o Hospital Walfredo Gurgel tenha sua estrutura dedicada à assistência de pacientes mais graves – como politraumatizados e vítimas de acidente. Hoje, contudo, segundo dados do governo estadual, mais da metade dos pacientes atendidos têm alta logo após passarem pelo médico, o que comprova que são casos de menor complexidade e que podem ser resolvidos em outras unidades.

A partir de 15 de outubro, o pronto-socorro do Walfredo Gurgel deixará de ser “porta aberta”. Com a mudança, a unidade vai passar a receber apenas pacientes encaminhados de outras unidades ou casos de urgência e emergência graves, como acidentados. Pacientes com outras enfermidades devem recorrer a UPAs ou unidades básicas para só depois, se for o caso, chegarem ao Walfredo.

Competição entre pacientes. Quem pode esperar?

Iara Pinheiro registra que, atualmente, pacientes que realmente precisam de atendimento do Walfredo Gurgel (casos mais graves e serviços de referência, como ortopedia e neurologia) competem na porta da unidade com pacientes menos graves – que vão ao hospital muitas vezes com quadros de dor de cabeça, luxações, febre baixa e outras doenças que demandam atendimento de simples complexidade.

“Esse paciente não pode esperar, o de altíssima complexidade. A gente está pedindo que ele seja visto. É isto que a promotoria defende. Eu estou pedindo aos secretários que o paciente de alta complexidade seja visto, seja enxergado. A sociedade precisa que o Walfredo cumpra a sua missão (atender pacientes graves e serviços de referência) com muita qualidade, porque só tem ele. Esse outro paciente (menos grave) vai para a UPA”.

Iara Pinheiro, promotora de Justiça

A promotora reconheceu que o Sistema Único de Saúde (SUS) tem gargalos e que muitas vezes o paciente menos grave recorre ao Walfredo porque não consegue assistência em outra unidade, mas que são casos que podem aguardar. O foco do hospital deve ser, porém, segundo ela, na prestação da assistência aos pacientes que correm risco de morrer.

Ela admite que o paciente menos grave pode ficar sem atendimento temporariamente ou esperar mais, mas que regular a porta do Walfredo é uma medida necessária.

“Provavelmente (o paciente menos grave) vai esperar mais, provavelmente nós teremos uma realidade de maior lotação. Mas não têm a mesma gravidade. Talvez ele tenha que voltar para casa e volte no outro dia. Há gargalos no SUS. Reconheço que esses gargalos na linha assistencial de urgência são importantes e devem ser vistos. Claro que vai haver um grau de dificuldade de acolhimento. Mas é um paciente que às vezes nem é nem da UPA. Não posso pegar um paciente de atenção primária para ele ir para a UPA validar um atestado”.

Iara Pinheiro, promotora de Justiça

Para minimizar o impacto, a promotora defendeu mais investimentos nos serviços municipais de saúde, para que essas unidades tenham condições de prestar o atendimento necessário e não aumentar a desassistência.

A promotora disse que a regulação da porta do hospital Walfredo Gurgel é, também, um ato de racionalização do gasto de recursos públicos. Iara Pinheiro enfatiza que todos os pacientes precisam ser acolhidos, mas que o serviço do Walfredo custa muito caro e deve ser dedicado a casos de vida ou morte ou de referência da unidade.

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