Uma operação da Polícia Civil de Teresópolis, na Região Serrana do Rio, prendeu nesta quinta-feira (19) cinco pessoas apontadas como integrantes de uma quadrilha responsável por roubar cerca de R$ 11 milhões de uma mulher de 88 anos que era aposentada da Justiça Federal.
Segundo a polícia, a idosa era constantemente dopada com o medicamento clonazepam (comumente administrado por criminosos no golpe conhecido “Boa noite, Cinderela”) para autorizar saques e assinar cheques e documentos aprovando venda de imóveis (incluindo quatro apartamentos), além da aquisição de bens como carros de luxo.
Caixas do medicamento – que é usado no tratamento de ansiedade, convulsão e epilepsia – foram encontradas no quarto da vítima, que teve o patrimônio dilapidado.
De acordo com as investigações, a quadrilha começou a atuar em 2018, quando um dos integrantes foi contratado como pedreiro e depois se tornou o motorista da vítima. Bruno de Lima Reis seria o chefe da organização criminosa e o responsável por apresentar os demais envolvidos à idosa, que os contratou como funcionários.
As suspeitas começaram quando uma sobrinha da idosa recebeu uma ligação anônima, em fevereiro deste ano, afirmando que a tia estava sendo vítima de maus-tratos e que os bens dela estavam sendo roubados. A mulher, então, acionou a 110ª DP.
Segundo a polícia, a aposentada tem um quadro de transtorno mental causado, possivelmente, por uso excessivo do medicamento. A idosa está sob cuidados de familiares, no Rio.
Os cinco detidos
Além de Bruno, foram presos Luiz Carlos Amorim e Márcia Souza Pereira Amorim, sogros do motorista e caseiros do sítio da vítima, e Marcelo da Silveira Reis, tio de Bruno e responsável pelas transferências bancárias, segundo a polícia.
O jardineiro do sítio, Alexandre Caetano Félix, que também seria integrante da quadrilha e era considerado foragido, se entregou à polícia na tarde desta quinta. De acordo com o delegado responsável pelo caso, Alexandre afirmou que estava trabalhando no Rio e, por isso, não havia sido encontrado pelos policiais.
Até a última atualização desta reportagem, o G1 não havia conseguido o contato dos advogados dos citados.
Além dos cinco mandados de prisão para os principais membros do esquema, a Operação Parasita cumpriu 11 mandados de busca e apreensão nas residências de todos os envolvidos.
De acordo com a polícia, os chefes da quadrilha vão responder por roubo qualificado, organização criminosa e lavagem de dinheiro. Já as pessoas que cederam suas contas para as transferências bancárias vão responder por organização criminosa e lavagem de dinheiro.
Auditor suspeito de envolvimento
Entre os suspeitos de envolvimento no esquema está o auditor fiscal chefe da Receita Estadual de 12 municípios da Região Serrana, Moacir Carvalho Correia. Na casa dele, foram cumpridos mandados de busca e apreensão.
Segundo a polícia, Moacir teria recebido mais de R$ 100 mil e fazia parte do esquema de transferências bancárias.
“Tivemos a expedição de vários mandados de busca e apreensão em relação aos endereços das pessoas que cederam suas contas para transferências bancárias e que ficam com 5% do valor transferido. Uma dessas pessoas que cedeu a conta é auditor da Receita Estadual […]”, afirmou o delegado titular da 110ª DP, responsável pelo caso, Márcio Mendonça Dubugras.
“Na casa dele foram apreendidos computadores, documentos, celular. Tudo isso vai ser objeto de uma investigação futura para analisar qual a participação dele nesse fato e em outros.”
Uma equipe de reportagem da Inter TV, afiliada TV Globo, esteve na residência de Moacir, mas o auditor disse que não vai se pronunciar sobre o caso.
Em nota, a Secretaria de Estado de Fazenda (Sefaz-RJ) informou que, “diante da gravidade da denúncia”, o auditor fiscal Moacir Carvalho Correa foi afastado do cargo de chefia.
Ainda segundo a Sefaz, uma investigação interna foi instaurada para auditar os procedimentos aos quais Moacir tem acesso ou participação, “com o objetivo de confirmar se os atos que estão sendo investigados de fato não afetaram a Sefaz-RJ de alguma maneira. Ao mesmo tempo, a pasta acionou todos os órgãos de controle interno do estado”.
Venda de imóveis
As transferências de dinheiro eram realizadas por meio da utilização das contas de terceiros que sacavam as quantias e repassavam aos membros da organização criminosa, ficando com 5% do valores transferidos, segundo as investigações.
Além disso, de acordo com a Polícia Civil, em 2020 a organização criminosa conseguiu forjar uma declaração de união estável entre a vítima e Bruno, para vender todos os imóveis da idosa, incluindo quatro apartamentos na Barra da Tijuca e Copacabana. Eles foram negociados por valores bem abaixo do mercado.
O sitio da vítima, localizado no bairro Cascata dos Amores, também foi transferido para um dos membros da organização criminosa. Segundo moradores da região, Márcia e Luiz eram vistos no local desde 2013. Ainda de acordo com moradores, o casal trabalhou em outros imóveis antes de começar a trabalhar no sítio da idosa.
Sobrinha da vítima foi informada de crime
Após a denúncia da sobrinha da vítima em fevereiro, policiais civis que chegaram a visitar o sítio da idosa. Eles não identificaram situação de maus-tratos, mas abriram um inquérito para investigar o caso.
Um dia após a denúncia e a visita dos agentes, no entanto, a vítima deu entrada num hospital com suspeita de traumatismo craniano. A idosa também teve o plano de saúde cancelado por falta de pagamento.
As suspeitas de que algo de errado estava acontecendo também foram confirmadas por amigos da idosa, que, ao visitar o sítio, perceberam que o local estava malcuidado e que a vítima estava agindo de forma estranha.
Fonte: G1
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