Meninas usam saia e meninos… também. Os atores Orlando Caldeira e Drayson Menezzes, de 36 e 30 anos respectivamente, resolveram expandir a ideia de que apenas mulheres podem usar a peça com a Galo Solto.
A marca carioca faz sucesso pelo Brasil entregando modelos produzidos especialmente para homens.
Em vez de replicar os desenhos femininos, a dupla, que já estava acostumada a usar saias como figurinos, desenvolveu exemplares únicos que prezam pelo conforto e pela versatilidade.
Um exemplo é o modelo chamado samurai, que recria a roupa de camada dupla usada por guerreiros no Japão e cabe em looks de piquenique a casamentos. Feitas de linho, brim ou jeans, as peças também surgem em versões esportivas, mais despojadas.
Caldeira afirma:
As pessoas querem estar bem-vestidas, impecáveis e chamar atenção. Mas também querem conforto.”
Sem preconceitos
Antes de comercializar os modelos, Orlando e Drayson faziam as saias para uso próprio. Quando decidiram lançar as opções para público, surpreenderam-se com a aceitação. Foi mais positiva do que esperavam.
“Atendemos do fashionista ao cara que gosta de ir no samba em Madureira”, diz Orlando. Entre os clientes fiéis, tanto pessoas da comunidade LGBTQIA+ quando homens heterossexuais.
A receptividade foi impulsionada pelas celebridades. Entres os famosos que aderiram ao traje estão o cantor Tico Santa Cruz e os atores Ícaro Silva, Carmo Dalla Vecchia e Babu Santana.
Gente como a gente
Homens que estão fora dos holofotes da TV ou da internet estão se sentindo cada vez mais confortáveis para vestir saias.
O artista plástico carioca Igor Tavares, de 39 anos, usou a peça pela primeira vez há 2 anos quando foi convidado para ser padrinho de um casamento gay. “Sempre tive vontade e vi na cerimônia uma oportunidade”.
A vestimenta não passou despercebida. “Algumas crianças me perguntaram de que país eu era e outros pediam para tirar foto comigo”, recorda-se. Felizmente, na Argentina e no Rio de Janeiro, ele conseguiu usar a roupa sem tanto “auê”.
Dono de cinco saias, o professor de matemática Rodrigo Gomes, 37 anos, já foi parabenizado pelo estilo e assegura que poucas vezes se deparou com algum comentário negativo.
“Comecei a usar saia em 2009 em Goiânia, onde moro. Fui a bares, boates e festas de família. Ainda não tive coragem de sair na rua por aqui, mas em São Paulo usei até no transporte público. O povo é mais aberto”.
Entre os pontos positivos da saia, Rodrigo aponta a sensualidade e o conforto. Foi também pensando no bem-estar que o ator carioca Jorge Florêncio (35) adotou a roupa como parte dos looks do dia a dia.
“No início, tive cautela. Sou da Zona Norte do Rio e fiquei receoso com as possíveis reações, mas só notei olhares de estranheza.”
Hoje, não tenho essa preocupação. Entendi os olhares dizem mais sobre quem olha do que sobre mim”.
Não é novidade
Como desmistificar a ideia de que o uso de saia é somente para mulheres? Os estilistas à frente da Galo Solto buscam a resposta em outras culturas, como entre os escoceses e os grupos étnicos africanos Masai e Samburu.
Ao longo da história, algumas civilizações também consideravam a peça o item principal do vestuário masculino. Na Grécia antiga, as vestimentas eram agênero. Já no Império Romano havia a toga (espécie de manto), cuja forma e cor possibilitava identificar o grupo social do indivíduo. Mesmo os gladiadores (prisioneiros de guerra e escravos) usavam a indumentária.
*Do blog Nossa Moda/UOL.
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