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‘Se soltar, leva tiro’, relata refém colocado em capô de carro em mega-assalto de Araçatuba

Criminosos fizeram ‘escudo humano’ com moradores de Araçatuba (SP) — Foto: Arquivo

O morador de Araçatuba (SP) que foi colocado em cima do capô de um carro durante o mega-assalto a agências bancárias relatou que viveu momentos de terror enquanto era ameaçado de morte pelos criminosos para se segurar no veículo como ‘escudo’ humano.

O homem, que não terá a identidade revelada, estava indo buscar um passageiro próximo da rodoviária, quando se deparou com os bandidos.

“Estava a trabalho e eles já estavam com as ruas fechadas. Me abordaram, mandaram eu sair do carro, tiraram minha camisa e jogaram meu boné para o chão”, afirmou o homem.

Pelo menos 20 criminosos fortemente armados invadiram a cidade, bloquearam ruas e fizeram reféns. Dois moradores morreram baleados. A outra vítima é um dos integrantes da quadrilha, que morreu em uma troca de tiros, segundo a polícia.

O morador também relatou que os criminosos ligaram para o telefone da polícia. Porém, assim que o telefonema completava, eles deligavam com o intuito de confundir a corporação. Em seguida, atiravam pelas ruas.

“Davam tiro para o alto, deram tiro em cima dos prédios. Aí um deles tomou um tiro do meu lado, tomou tiro no pescoço e morreu na hora. Eles me fizeram puxar o corpo, colocar dentro do porta mala do carro”, disse.

“Na hora que me colocou no capô do carro, ele ainda falou: ‘se você soltar, se você se jogar, eu paro o carro e dou um tiro na sua cara’. Eu acho que eu nunca segurei num lugar tão forte igual eu segurei aquela hora. Eles passavam em lombada, passavam em depressão da rua, e o carro pulava, e eu segurando. Tanto é que uma hora que eles passaram próximo ao calçadão, na hora que teve um confronto com a polícia, levei um de raspão. A única coisa também que aconteceu, o único machucado que tive”, complementou.

Um outro morador também presenciou toda a ação dos criminosos e disse que viveu momentos de terror.

“Eles estavam com coletes, fuzis, armamento pesado. Estavam parecendo soldados de guerra, com capacetes, essas coisas. Eles mandaram a gente sair do carro e tirar a camisa. Todo tempo dando tiro pesado perto da nossa cabeça com arma pesada, xingando, assustando”, disse o homem.

O ataque
A quadrilha chegou por volta de meia-noite de segunda-feira no centro de Araçatuba. Duas agências bancárias foram assaltadas. Em uma delas, que funciona como uma tesouraria regional, os criminosos tiveram acesso ao cofre subterrâneo. Na outra, a quadrilha atacou os caixas eletrônicos. A terceira agência foi apenas danificada.

Os criminosos renderam moradores e os usaram como “escudo humano” sobre os carros. Veículos foram queimados em vários pontos da cidade e da região para impedir a chegada da polícia.

A quadrilha usou drones para monitorar toda a ação, tanto na chegada na região central até a fuga pela zona rural da cidade.

Segundo informações da Secretaria de Segurança Pública, 40 explosivos em 20 pontos da cidade foram deixados pela quadrilha. O Grupo de Ações Táticas Especiais (Gate) trabalha para desarmar as bombas.

Várias ruas foram interditadas para evitar a circulação de pessoas, já que os artefatos estão equipados com sensores de proximidade, de acordo com a polícia.

Um desses explosivos deixou gravemente ferido um morador de 25 anos que passava de bicicleta por um dos pontos. A polícia não sabe se ele apenas se aproximou de uma dinamite ou se chegou a tocá-la, mas o artefato explodiu e atingiu o homem, que teve os pés amputados.

O crime também interferiu na vacinação contra a Covid-19, pois um dos pontos de imunização ficou fechado. Como no município fica a sede do Departamento Regional de Saúde (DRS), não houve a distribuição de vacinas e Birigui cancelou a vacinação nesta segunda-feira.

O prefeito de Araçatuba, Dilador Borges, suspendeu as aulas nas escolas municipais; escolas estaduais também cumpriram a medida.

Em nota, a Prefeitura de Araçatuba afirmou que o transporte público vai operar durante todo o dia, mas com alteração nas rotas para evitar o Centro da cidade.

O município também lamentou o ocorrido e se colocou à disposição das famílias das vítimas e de moradores que foram usados como reféns.

Equipes foram disponibilizadas para realizar atendimento psicológico por meio dos telefones (18) 3624-5565, (18) 3637-1050 e (18) 99607-3897.

O Centro de Referência e Apoio à Vítima (CRAVI ), entidade que atua em parceria com o Governo do Estado, também vai prestar apoio aos moradores pelos números (18) 3301-9751; (18) 9777-5771 e (18) 98143 -7074.

Até as 10h30, três suspeitos tinham sido presos e levados à delegacia da Polícia Federal.

Vítimas

Márcio Victor e Renato Bortolucci morreram em ataque de quadrilha a agências bancárias de Araçatuba (SP) — Foto: Arquivo pessoal

O personal trainer Márcio Victor e o comerciante Renato Bortolucci morreram na ação, além deles, um suspeito morreu na troca de tiros com a polícia, mas a identidade dele não foi informada.

Além dos mortos, cinco pessoas ficaram feridas, segundo boletim divulgado pela Santa Casa da cidade. Uma delas foi um rapaz de 25 anos que teve os dois pés amputados após acionar um explosivo.

Confira a situação dos feridos:

  • Homem 28 anos: baleado no abdome. Segue em atendimento e avaliações. Projétil não alojado. Quadro clinico: estável;
  • Homem 31 anos: baleado na face e braços. Precisou ser intubado. Quadro clinico grave, porém estável;
  • Homem 38 anos: baleado nas pernas, braços e cabeça (raspão). Precisou ser intubado. Quadro clinico grave, porém estável;
  • Homem 26 anos: sofreu amputações traumática nos dois pés por explosivo. Foi para o centro cirurgia de ortopedia, está intubado.
  • Homem 45 anos: baleado na região glútea. Projetil não alojado. Foi medicado e já recebeu alta.

Fonte: G1


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