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Lázaro, o herói?

Por Renato Cunha Lima

O precursor do movimento modernista no Brasil, o paulista Mário de Andrade tem em sua obra-prima um dos personagens mais representativos da literatura e da alma brasileira, no livro, Macunaíma, o herói sem nenhum caráter.

Incrível como vira e mexe nosso país envereda para romantizar a vida de pessoas com caráter no mínimo duvidoso e toda vez que surge um novo “Macunaíma”, a obra de Mário de Andrade me salta na memória.

O cangaceiro Lampião e sua quadrilha, criminosos com diversos crimes e assassinatos, ainda hoje tratado por muitos como uma espécie de “Robin Hood” nordestino é um exemplo claro do que corriqueiramente ocorre.

Nas cidadelas do crime, que são as favelas e comunidades sitiadas por facções criminosas, os chefes das quadrilhas são vistos como heróis locais, com prestígio tamanho a servirem de “exemplo” para ascensão social de adolescentes desprovidos de quaisquer oportunidades.

Na política não é diferente, a máxima popular que todo político é ladrão não muda o fato dos mesmos serem repetidas vezes eleitos e reeleitos. O “rouba mas faz” virou regra eleitoral de um país que o primeiro artigo da constituição deveria ser “todo poder mama do povo”.

O ex-condenado Lula é o exemplo maior, com dezenas de processos criminais a serem rejulgados e julgados, ainda consegue pontuar com expressivo índice de intenção de votos em pesquisas eleitorais.

Não pesa para muitos o fato de Lula chefiar o Partido dos Trabalhadores, que por mais uma década governou e saqueou o Brasil com roubo na casa dos bilhões, como atesta a volumosa devolução dos réus confessos do maior esquema de corrupção da história.

Igual a Lula, outros tantos políticos enrolados na justiça seguem com apoios e votos. A própria existência de uma Lei eleitoral, a Lei da Ficha Limpa, para barrar a candidatura de políticos enrolados com a justiça é uma prova do “macunaismo” brasileiro, quando deveriam ser inelegíveis pela ausência de votos e não por uma regra eleitoral.

Então que surge o Lázaro Barbosa, “serial killer”, batizado com nome em homenagem a Lázaro de Betânia, que Jesus Cristo ressuscitou depois de quatro dias sepultado, como relatado em João 11:1-46.

Desde de 2007 que este goiano com nome bíblico comete crimes, assassinatos e mesmo sendo considerado um “psicopata imprevisível” em 2013, ele conseguiu progredir para o semiaberto e foragido vem literalmente “tocando o terror” em Brasília e Goiás.

A caçada frustrada a Lázaro, até o momento, com a participação de centenas de policiais ridiculariza o Estado brasileiro, que é incapaz de prender um só homem no meio de uma mata, tanto que virou piada, “meme” nas redes sociais.

Momento que, na imprensa, que tem o costume “macunaimista” de vitimizar e romantizar criminosos, como foi com os criminosos mortos no Jacarezinho, ao tempo que criminalizaram a ação policial, já estamos assistindo teses e uma espécie esquisita de torcida para Lázaro.

Parecem comemorar o “Olé” de Lázaro nas forças policiais, como quem vibra com um drible do Neymar e como proteção ao “serial killer”, invés de criticarem a ineficiência do Estado a partir do judiciário, preferem a crítica prévia a uma possível morte do criminoso em sua perseguição.

Não resta muito para Lázaro Barbosa se tornar o novo herói nacional, o novo Macunaíma, hoje sem dúvida é o brasileiro mais comentando nas redes sociais e nas rodas de bate papo e ironicamente quem sabe ele não surja como opção para a tão sonhada terceira via para as eleições presidenciais.

Certa vez o folclorista potiguar, o genial Câmara Cascudo disse que o melhor do Brasil é o brasileiro, eu acredito e concordo que seja, pela criatividade e bom humor, como tenho a compreensão que o pior do nosso país é o nosso mau-caratismo. Nos falta vergonha na cara.

 

Foto: Divulgação

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