Afinal, o que é determinante para a flexibilização? São os indicadores de leitos vagos, transmissividade e óbitos diários por Covid-19, ou controlar a liberdade da população?
Tornou-se imperativo controlar a vontade das pessoas? Falando pela governadora, o vice Antenor Roberto expôs a ânsia do governo estadual para controlar as decisões do povo. Em seu discurso político, durante a coletiva de ontem, segunda-feira, deixou transparecer um tom que pode até ser considerado ditatorial. Ordens para que obedeçam de qualquer maneira, “parceria com o MP” para impor sua vontade e uma inconformação com a “liberalidade” da população deveriam, imediatamente, acender o alerta quanto às intenções do governo. Inclusive, ignorar inúmeros médicos, cientistas e estatísticas que confirmam algumas alternativas para a gestão da crise não parece ser uma postura democrática.
Ainda, como se fosse um gestor perfeito e imaculado, falou em não reconhecerem os esforços do governo, desobedecendo. Como se a grande maioria da população não estivesse fazendo a parte dela, trancada em casa nesse “pacto pela vida” de uma via só.
Pessoas perderam emprego, perderam entes queridos, tudo isso por causa do vírus e suas consequências. O governo do estado realmente fez alguma coisa sensível para evitar isso? Decreto é remédio? Decreto é vacina? Quer que a população reconheça o quê?
Não vou entrar no mérito da abertura de leitos que não abriram, dos respiradores que não foram entregues (apesar de já pagos, sem contrato). Deixarei para o MP parceiro julgar esse mérito.
Até mesmo o prefeito, que antes apresentava uma postura mais parceira do povo, entendendo a necessidade de flexibilizar, criando alternativas para contornar a crise, acabou caindo em tentação, também. Ou obedecem “ou então vamos ter de retroceder, de voltar a fechar tudo e manter o isolamento social com rigor”, foi sua reação aos desmandos do fim de semana.
É justo com quem respeitou o decreto?
Ficam as perguntas: a população passou mais de 120 dias basicamente trancada em casa, dá pra dizer que ela não foi parceira? Uma pequena parte dela desobedece e todos os outros merecem o “chicote”?
Este texto não é pra dar razão aos inconsequentes que ignoraram as recomendações de saúde pública numa situação extremamente delicada. Mas para alertar sobre possíveis atitudes extremas, escoradas em uma justificativa pouco racional em retaliação a uma população que anseia por sua liberdade de volta.
Cristiano Medeiros [Opinião]