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Área de manicômio dá lugar a projeto de hortas para 3 mil pessoas

Horta plantada em antigo manicômio no Rio — Foto: Edu Kapps/SMS

Um terreno que fazia parte da antiga colônia psiquiátrica Juliano Moreira, na Taquara, Zona Oeste do Rio, foi repaginado e deu lugar a um projeto municipal de hortas. Último manicômio carioca, a colônia foi desativada em outubro de 2022.

Antes, a área de mais de 20 mil metros quadrados estava tomada de mato e entulho. Atualmente, o local tem ervas e outras plantações que funcionam também como um meio de renda dos beneficiados pelo projeto Arte, Horta & Cia, ligado ao Programa de Geração de Trabalho e Renda do Instituto Juliano Moreira

Pacientes assistidos pela rede de saúde mental e moradores da região atuam na horta. Com objetivo de garantir sustentabilidade e bem-estar social, o projeto acaba de receber o Certificado de Conformidade Orgânica da Associação de Agricultores Biológicos do Estado do Rio de Janeiro (ABIO).

Integrado ao Museu Bispo do Rosário, o projeto é o primeiro dentro da Rede Carioca de Agricultura Urbana (Rede CAU) a receber esse certificado.

O projeto oferece um curso de agricultura urbana e agroecologia semestralmente para capacitação. Com duração média de quatro meses e com 64 aulas ao total, sendo práticas e teóricas semanais, em torno de 3 mil participantes estimados já foram beneficiados, entre usuários dos centros de atenção psicossocial da Secretaria Municipal de Saúde, moradores do entorno e integrantes que apoiam o funcionamento da iniciativa.

A horta começou a ser preparada em 2021. Já em 2022, a produção começou a ganhar fôlego e desde então segue rendendo mantimentos. Na área plantada de dois mil metros quadrados com 90 canteiros, alface, couve, almeirão, coentro e cebolinha já foram colhidos.

Coqueiros, limoeiros e bananeiras também podem ser vistos ao longo do terreno que tem ao todo 20 mil metros quadrados. A estimativa é de uma produção de aproximadamente 300kg por ano de culturas diversas.

Para a coordenadora do projeto, Marcelle Souza, o objetivo central é construir uma visão crítica e autônoma dos membros da horta.

“Entendemos a participação na horta como fomento à saúde integral do indivíduo. A gente estimula a emancipação desse sujeito nesse espaço para que ele deslumbre outras possibilidades fora desse território. A nossa premissa é incentivar uma visão de mundo que possibilite escolhas”, explica Marcelle.

O projeto pôde auxiliar na recuperação da independência e do desenvolvimento do marido da Valéria Serqueira. Vanderley de Oliveira sofreu um Acidente Vascular Cerebral (AVC) em 2018 e desde então teve que lidar com sequelas. A interação e a prática com o cultivo ajudaram no progresso dele. Valéria acompanhou de perto cada avanço e resolveu entrar no projeto também.

“Meu marido é outra pessoa! Vendo como ele está hoje, você não acreditaria em como estava antes de vir participar. O pessoal do projeto não só faz plantações, vasos ou ornamentações, como também faz a gente se lembrar que está vivo. Percebemos que nós somos alguém e que podemos vencer”, conta Valéria.

Cercada por lembranças de seus pais e de sua infância sempre que está na horta, Eliana Dias mora na região há 53 anos e chegou ao projeto convidada por uma vizinha. Ela já mantinha o hábito de cuidar de um jardim caseiro e se viu encantada com as plantações.

“Aprendi a exercitar a paciência, esse é o grande ganho, nos voltarmos para nós mesmos e reconhecermos o nosso papel nesse mundo. Respeitar a terra e suas nuances, além disso respeitar o próximo”, diz Eliana.

Parte dos alimentos plantados é utilizada posteriormente no restaurante Bistrô do Bispo, no Museu Bispo do Rosário, no qual um cardápio é pensado e preparado para servir comidas brasileiras e naturais.

A colheita também é compartilhada entre os integrantes do projeto e a comunidade da região, procedimento decidido todo mês numa assembleia realizada entre os integrantes do projeto para direcionar as ações no espaço.

O curso de formação em agricultura urbana e agroecologia está em sua terceira turma de formação. A cada semestre são disponibilizadas 15 vagas destinadas para usuários da rede de atenção psicossocial e moradores locais.

Fonte: G1

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