
O escândalo dos comitês de cultura, revelado nas últimas semanas pelo jornal O Estado de S. Paulo (Estadão), envolve uma ONG do Rio Grande do Norte. Trata-se da Associação Grupo de Teatro Facetas, Mutretas e Outras Histórias, que tem como presidente o ator e produtor cultural Rodrigo Bico, militante do PT em Natal.
A ONG de Rodrigo Bico foi contratada em 2023 pelo Ministério da Cultura para coordenar o Comitê de Cultura do Rio Grande do Norte. É mais um caso de ONG ligada a alguém do PT selecionada para a atividade. Reportagem do Estadão mostrou que a estrutura dos comitês de cultura, montados pelo País afora em 2023, têm beneficiado instituições de militantes petistas.
A entidade vai receber, até o fim do programa, R$ 1,7 milhão. Pelas redes sociais, o Comitê de Cultura do RN divulga a realização de ações como oficinas, eventos com apresentações artísticas pelo interior do Estado e assistência para produtores terem acesso a editais de cultura.
Nesta segunda-feira (10), em mais um desdobramento do escândalo, o Estadão revelou áudios em que uma dirigente do PT – a secretária nacional de Mulheres do partido, Anne Moura – aparece pressionando o então coordenador do Comitê de Cultura do Amazonas Marcos Rodrigues a se engajar na campanha dela a vereadora de Manaus (AM). Na gravação, ela diz que os Comitês de Cultura deveriam ajudar candidatos do PT.
Segundo Anne Moura, a alta cúpula do Ministério da Cultura do Governo Lula teria dado aval para o uso político dos comitês, como retribuição pela atuação dos artistas antes da eleição do presidente Lula (PT). ”Quem foi lá para frente da prisão gritar de manhã, de tarde e de noite para defender o Lula fomos nós. Nós que sofremos sendo chamados de ‘ladrão’. (…) E agora, chega na parte boa, a gente vai ficar olhando as coisas acontecendo?”, afirmou Anne Moura, na gravação.
Envolvimento de Bico na campanha de Natália Bonavides
Candidato a vereador de Natal pelo PT em 2020, Rodrigo Bico entrou de cabeça na campanha de Natália Bonavides (PT) à Prefeitura do Natal.
Uma postagem feita por ele nas redes sociais foi um dos destaques da disputa em segundo turno entre a petista e o candidato Paulinho Freire (União), que foi eleito prefeito. Na publicação, Bico se referiu ao candidato adversário como “um homem, branco, velho e heterossexual”.
O perfil de Bonavides curtiu o post e o caso foi judicializado. A Justiça Eleitoral mandou tirar o conteúdo do ar com base nos dispositivos que proíbem publicações preconceituosas.
Procurado, Rodrigo Bico não se manifestou até a última atualização deste texto. A deputada federal Natália Bonavides também foi questionada sobre o assunto, mas não enviou respostas à reportagem.
O que diz o Ministério da Cultura
O Ministério da Cultura afirmou que todas as seleções foram feitas a partir de um edital e que tiveram como base a capacidade técnica e a qualificação profissional dos contemplados.
Também destacou que os órgãos internos da pasta não apontaram conflitos de interesses. Sobre a militância partidária de coordenadores, a pasta chefiada por Margareth Menezes ressaltou que não cabe julgamento sobre a preferência.
Em nota, disse também que a primeira etapa da seleção se deu de forma “cega”, sem que a equipe que recebeu as propostas soubesse quem eram os proponentes.