O aumento dos casos de gripe e covid vem impactando negativamente os estoques de sangue do Hemonorte em Natal. Na primeira quinzena deste mês, cerca de 30% dos doadores cadastrados foram impedidos de abastecer os estoques do centro por causa de infecções por gripe ou covid-19. Dados do próprio Hemonorte revelam ainda que a alta de casos de covid e gripe ocasiona o afastamento de profissionais contaminados e provoca sobrecarga nos funcionários das equipes da linha de frente, o que acaba reduzindo a capacidade de atendimento. Atualmente, cerca de 15% dos servidores estão afastados de suas funções devido às síndromes respiratórias.
De acordo com a diretora de hemoterapia do Hemonorte, Ivana Vilar, a pandemia vem causando instabilidade nas doações desde 2020. “Realmente isso tem nos afetado há praticamente dois anos e agora, além da covid, temos também o vírus influenza circulando. Isso impacta negativamente nos nossos estoques, na medida em que nossos doadores sintomáticos não podem doar. Essa questão do aumento dos casos de covid e influenza também acabam impactando no nosso quantitativo de profissionais, que precisam se afastar de suas funções por causa das infecções”, conta.
Ainda segundo Vilar, o estoque de sangue do centro está longe do ideal, mas apresentou melhora na última semana em comparação com a anterior.
“Tivemos uma leve melhorada, mas nosso estoque ainda não está seguro. O começo de ano, meses de janeiro, fevereiro, quando o pessoal está nas praias, consumindo bebidas alcoólicas, é sempre um período mais difícil. Por isso é importante fazer esse alerta e sempre que fizemos, a população responde bem para que a gente possa manter a distribuição de sangue”, conta.
O Hemonorte tem hoje 434 bolsas de sangue, que são suficientes para atender os pacientes por um período de 3 a 4 dias. O número de bolsas considerado seguro varia de 726 a 1.005, que seria suficiente por até 10 dias. A unidade é responsável por distribuir sangue e hemoderivados para todos os hospitais públicos do Rio Grande do Norte, além de hospitais privados conveniados. As doações possibilitam ainda a realização de procedimentos eletivos, que são cirurgias programadas que não demandam emergência.
Atento aos baixos índices do banco de sangue, o administrador Daniel Souza, de 28 anos, completou uma década como doador ativo do Hemonorte. Na segunda-feira (24), ele esteve na unidade após ver um pedido de ajuda nas redes sociais. “Tive um problema na minha família e desde então passei a doar, recentemente vi uma pessoa que eu não conheço no Facebook precisando e resolvi vir aqui doar. É um gesto muito importante. Hoje a gente está bem, mas nunca sabemos quando vamos precisar”, relata.
Para ser um doador é necessário estar saudável, ter entre 16 e 69 anos de idade (quem for menor de 18 anos precisa estar acompanhado do responsável legal), pesar acima de 50 quilos, ter dormido bem na noite anterior, evitar alimentos gordurosos antes da doação, não ingerir bebidas alcoólicas nas 12 horas anteriores, estar alimentado e portar um documento oficial com foto. Cada doação pode salvar até quatro vidas.
Quem também compareceu ao Hemonorte para contribuir com as doações foi o servidor público Hélio de Carvalho, de 39 anos. “Sempre que os estoques estão baixos assim eu venho aqui dar uma força. Agora, especificamente, vim ajudar um tio meu. É importante demais, sobretudo agora nesse momento que alguns doadores não podem doar porque estão infectados. Quem ainda não for doador, pode vir porque é seguro, rápido e você se sente uma pessoa melhor em estar ajudando o próximo”, destaca.
Para quem foi vacinado o tempo de impedimento varia de acordo com o fabricante do imunizante: CoronaVac, 48 horas após cada dose; Oxford e Pfizer, 7 dias após cada dose. Para quem tomou a vacina contra influenza, o prazo é de 48 horas. Os intervalos para doação são de 60 dias para homens e de 90 dias para mulheres, com o máximo de quatro doações ao ano para o homem e três doações para a mulher.
Unidades sofrem com servidores afastados
Além do impacto no quadro de servidores do Hemonorte, as infecções pela variante ômicron do coronavírus e pela influenza têm provocado redução de profissionais nas unidades de saúde e nos pontos de vacinação. A Secretaria Municipal de Saúde de Natal (SMS) não soube informar o quantitativo de servidores afastados, mas reconheceu a redução nos atendimentos por causa da diminuição de profissionais e pediu compreensão da população.
“A Secretaria Municipal de Natal pede a compreensão da população em relação ao processo de vacinação que está mais lento em virtude de vários profissionais estarem de atestado médico, nossos heróis são humanos e também adoecem. A prefeitura tem feito todo esforço para repor essa mão de obra, mesmo diante da escassez de recursos financeiros e conta com a compreensão da população nesse momento”, disse a pasta em nota enviada à TRIBUNA DO NORTE.
Na manhã de ontem (24), a procura por atendimento no Centro de Enfrentamento às Síndromes Gripais, localizado no Centro de Enfrentamento vai funcionar no Centro Municipal de Referência em Educação Aluízio Alves, foi intenso. O atendimento ao público foi encerrado às 12h40 tamanha a procura. De acordo com a coordenação do centro, até o meio-dia, dos 173 testes feitos no local, 101 tiveram resultado positivo para a covid-19.
No local houve quem esperou até cinco horas para ser atendida. “Cheguei aqui era por volta de 5h40 para garantir o exame e fui atendida agora há pouco às 11h porque tô com essa suspeita de covid. Tive contato com uma pessoa que se infectou e estou com falta de paladar e olfato. Infelizmente não tem o que fazer, a gente acaba enfrentando muita fila, sol, espera longa porque é muita gente e os profissionais são muito poucos”, diz Luana Ribeiro, de 29 anos.
No sábado (22), o RN confirmou 1.543 casos positivos de covid-19. Foi a quarta vez consecutiva na semana que o número de casos registrados em um dia alcança a unidade de milhar. No ano, esse foi o registro recorde, superando a última quarta-feira (19), quando foram notificados novos 1.307 casos.
Fonte: Tribuna do Norte