Na investigação que resultou na Operação Tempus Veritatis (“hora da verdade”, em latim), a Polícia Federal (PF) destacou mensagens do tenente-coronel Mauro Cid, à época ajudante de ordens de Jair Bolsonaro (PL) na Presidência, que demonstram “anuência de militares com manifestações antidemocráticas” na frente de quartéis.
Em resposta a um oficial do Exército que disse estar preocupado com uma recomendação do Ministério Público Federal, Cid orientou seu interlocutor a ignorar o órgão.
O procurador da República Fabiano de Moraes havia recomendado que fosse desmontada a estrutura usada por manifestantes golpistas que acampavam em frente a uma unidade do Exército em Caxias do Sul (RS).
“Cara, vou ser bem sincero contigo. Tá recomendado… manda se foder! Recomenda… está recomendado. Obrigado pela recomendação (…) Eles [o MPF] não podem multar. Eles não podem prender. Eles não podem fazer porra nenhuma. Só vão encher o saco. Mas não vão fazer nada, não”, disse Cid em áudio transcrito pela PF.
O áudio foi enviado ao tenente-coronel Alex de Araújo Rodrigues, à época subcomandante do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea. Ele pediu ajuda a Cid porque, em suas palavras, “o MPF está colocando a gente contra a parede”.
Rodrigues chegou a compartilhar com Cid o texto da recomendação feita pelos procuradores de Caxias do Sul. O documento recomendava à unidade militar que fossem adotadas providências para retirar banheiros químicos, tendas e barracas usadas pelo manifestantes, que estavam ocupando uma área da União.
O MPF dizia, na recomendação, que a ocupação da área militar ocorria “de forma permanente e indevida, por manifestantes que incitam animosidade das Forças Armadas contra os poderes constituídos”.
Diante da resposta de Cid, Rodrigues pede para o então ajudante de ordens avisar “Alves” sobre a orientação, pois esse estaria “desesperado” com a iniciativa do MPF. Segundo a PF, “Alves” seria o tenente-coronel Anderson dos Santos Alves, comandante do 3º Grupo de Artilharia Antiaérea.
Segundo a investigação, a conversa entre Cid e Rodrigues é um dos elementos que demonstram que militares anuíram com os acampamentos golpistas — de onde, posteriormente, saíram os manifestantes que depredaram as sedes dos Três Poderes no 8 de janeiro de 2023, no caso de Brasília.
Fonte: g1