Funcionários da 123 Milhas, que anunciou, na última semana, a suspensão de pacotes e da emissão de passagens de sua linha promocional, relatam demissão em três setores da empresa: recompra, promo e emissão.
Uma fonte que preferiu não se identificar afirmou que, ao menos, centenas de pessoas já foram desligadas. Ainda, segundo funcionário, os gerentes de cada setor ficaram responsáveis por anunciar a demissão, que aconteceu às 9h desta segunda-feira (28).
Por meio de nota, a 123 Milhas confirmou que houve redução do tamanho da equipe, mas não divulgou quantos funcionários foram desligados.
O g1 questionou à assessoria da 123 Milhas quantos funcionários foram demitidos, de quais setores e se eles tinham carteira assinada. Também foi questionado se a empresa já providenciou o pagamento do tempo de serviço e se houve demissão em outros estados. Os questionamentos ainda não foram respondidos.
Veja comunicado na íntegra:
“A 123milhas informa que iniciou hoje, 28/08, um plano de reestruturação interna, com redução do tamanho da equipe para se adequar ao novo contexto da empresa no mercado. Essa difícil decisão faz parte das medidas para mitigar os efeitos da forte diminuição das vendas. A empresa está trabalhando para, progressivamente, estabilizar sua condição financeira”.
O Ministério Público do Trabalho (MPT/MG) também foi procurado pela equipe de reportagem.
Sobre os cancelamentos
Em comunicado divulgado no dia 18 de agosto, a agência de viagens 123 Milhas, empresa que controla a Hotmilhas, informou que suspendeu os pacotes e a emissão de passagens de sua linha promocional (com datas flexíveis) e que tenham embarques previstos de setembro a dezembro de 2023.
De acordo com a companhia, a decisão não afetaria os demais produtos ofertados pela empresa. A companhia afirmou que está devolvendo os valores pagos pelos clientes por meio de vouchers, que podem ser trocados por passagens, hotéis e pacotes da própria agência.
No entanto, segundo advogados, os consumidores têm direito a receber o dinheiro de volta, inclusive com correção de juros, ou exigir que a empresa cumpra o contrato.
A Secretaria Nacional do Consumidor (Senacon), ligada ao Ministério da Justiça, informou que já recebeu a resposta da empresa 123 Milhas sobre o pedido de esclarecimentos feito pela pasta sobre a suspensão dos pacotes. As informações enviadas ainda estão sob análise técnica.
Caso a 123 Milhas “não apresente as informações de forma satisfatória e que atenda aos requisitos previstos no Código de Defesa do Consumidor”, a Senacon pode tomar medidas sancionatórias, que vão desde a aplicação de multas, até a proibição da comercialização de novos pacotes de viagens pela operadora.
Hotmilhas suspende serviço
Controlada pelo grupo 123 Milhas, a Hotmilhas, também com sede em Belo Horizonte, suspendeu temporariamente o serviço de compra e venda de milhas em seu site. O anúncio foi publicado na noite deste sábado (26).
Por meio de nota, a empresa informou que, “por conta de uma forte queda das vendas de sua controladora”, atrasou o pagamento a clientes previsto para sexta (25/08) e suspendeu temporariamente o serviço de compra de milhas em sua plataforma.
A empresa
A 123 Milhas foi fundada em Belo Horizonte em 2016. O capital social, valor inicial investido pelos sócios para a abertura da empresa, foi de R$ 1 milhão.
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A companhia se apresenta como pioneira na criação de produtos de viagens comercializados online com valores atrativos e como o quarto site de turismo mais acessado do Brasil.
A 123 Milhas afirma que, desde 2016, mais de 25 milhões de clientes embarcaram para destinos nacionais e internacionais e que tem mais de 100 mil hospedagens parceiras no mundo.
Quem são os donos
De acordo com dados da Rede Nacional para a Simplificação do Registro e da Legalização de Empresas e Negócios (Redesim), do governo federal, o quadro societário da 123 Milhas é composto por Ramiro Julio Soares Madureira e Augusto Julio Soares Madureira, como administradores, e pela Novum Investimentos Participações S/A, como sócia.
A Novum Investimentos Participações S/A, classificada como holding (empresa que detém a posse majoritária de ações de outras empresas), também tem Ramiro Julio e Augusto Julio no quadro societário, ambos como diretores.
Juntos, os dois aparecem no quadro societário de pelo menos oito empresas, incluindo Maxmilhas e HotMilhas.
Segundo informações coletadas no LinkedIn, Augusto Julio é formado em ciências econômicas pela Universidade Federal de Minas Gerais (UFMG) e exerceu cargos nas áreas administrativa, financeira e operacional em empresas dos setores de serviços e indústria.
123 Milhas e Maxmilhas
Em janeiro deste ano, a 123 Milhas e a Maxmilhas, plataforma de pesquisa e compra de viagens, anunciaram um acordo de fusão.
A Maxmilhas, que também tem sede em Belo Horizonte, foi fundada em 2012 por Max Oliveira. No entanto, atualmente, os administradores da 123 Milhas são os únicos no quadro societário da empresa – Ramiro Julio Soares Madureira como presidente, e Augusto Julio Soares Madureira como diretor.
Apesar da fusão, as operações das duas empresas seguiram independentes. A Maxmilhas afirmou que “nunca comercializou produtos categorizados como flexíveis” e que não há “nenhum impacto” para seus produtos e clientes.
Como funciona
A oferta da linha promocional, que teve pacotes e emissão de passagens suspensos, funciona assim: a empresa vende bilhetes aéreos e hospedagens a valores abaixo do mercado. As viagens não têm data marcada, porque a agência precisa pesquisar dias de voo e estadia mais baratos.
Com o arrefecimento da pandemia, a procura por viagens aumentou, e os serviços ficaram mais caros. A 123 Milhas passou, então, a não encontrar passagens e hospedagens dentro da faixa de preço cobrada dos clientes.
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Segundo a empresa, a decisão pela suspensão dos pacotes e emissão de passagens “deve-se à persistência de fatores econômicos e de mercado adversos, entre eles, a alta pressão da demanda por voos, que mantém elevadas as tarifas mesmo em baixa temporada, e a taxa de juros elevada”.
Fonte: g1