O jovem que acordou com um corte profundo na barriga e parte do intestino exposto na Praia do Ermitão, em Guarapari, no Espírito Santo, no dia 16 de janeiro, disse em seu depoimento à Polícia Civil que ele e a namorada tiveram fortes alucinações após usarem LSD. O uso de droga também foi confirmado por ela em depoimento.
O relato do jovem à polícia consta no relatório final do inquérito policial, que concluiu pelo indiciamento da namorada.
Após o indiciamento, a namorada foi denunciada pelo Ministério Público como autora da agressão e a Justiça aceitou a denúncia, tornando Lívia Lima Simões Paiva Pedra, de 20 anos, ré.
As versões da denúncia do MP e a apresentada pelo casal diferem. O casal diz que foi atacado.
Em seu depoimento, o jovem contou que ele e a namorada entraram no Parque Morro da Pescaria pelas pedras e que encontraram com quatro pescadores no caminho.
Ele disse também que ao chegarem na praia beberam vinho, ouviram música, fizeram sexo e mergulharam.
Após o banho de mar, segundo o depoimento, o casal usou LSD e ambos tiveram alucinações visuais.
O estudante contou no depoimento que depois das alucinações as informações ficaram confusas e lembra de sentir medo e correr de alguma coisa. Após isso, ele disse que só se lembra de ter sido atingido na barriga e na cabeça.
A vítima disse também que não havia outras pessoas na praia com ele, mas acredita que a namorada tentou defendê-lo de alguém. O casal continua junto, segundo o depoimento.
Versão da polícia e da denúncia do MP
A denúncia que acompanha o indiciamento feito pela Polícia Civil foi entregue à Justiça no final de março. O documento diz que Lívia agiu “por motivação desconhecida e impulsionada pelo uso de drogas”.
Ela foi denunciada por lesão corporal grave, mas não foi solicitada sua prisão e ela deve responder em liberdade. Caso seja condenada pelo crime, a pena é de prisão de dois a oito anos.
“A denunciada, utilizando objeto cortante, golpeou a barriga do réu e o rosto dele, causando-lhe as lesões gravíssimas estampadas nas fotos e vídeos juntadas aos autos, bem como no prontuário médico, que determinaram a debilidade permanente do intestino delgado da vítima, deformidade permanente e fratura da cavidade nasal e seio maxilar”, diz um dos trechos do documento.
Por conta dos ferimentos, o estudante chegou a ser internado duas vezes.
Versão do casal
O advogado contratado pelas famílias dos jovens disse que o casal foi vítima de um ataque praticado por terceiros.
O advogado Lécio Machado disse que o casal fazia um luau na praia quando foi vítima do ataque.
A imagem de uma conversa do rapaz em um grupo passou a circular na internet e teve a veracidade confirmada pelo advogado da família. Nela, o rapaz também diz que ele e sua companheira foram vítimas de um ataque.
Relembre o caso
O rapaz e a namorada passavam parte da noite no local entre 15 e 16 de janeiro. A Praia do Ermitão fica dentro de um parque ambiental no município e é necessário passar por uma trilha para chegar. Durante a noite o caminho é fechado, mas não impediu que eles entrassem de forma irregular.
Segundo o comandante do batalhão da Polícia Militar da região de Guarapari, na madrugada do dia 16 os policiais receberam uma informação de uma confusão na Praia do Ermitão, e que uma pessoa estava ferida.
Uma equipe foi até o local, mas encontrou apenas uma bolsa, que foi entregue na delegacia. No dia seguinte, a PM soube que havia um rapaz ferido naquela região, que foi socorrido pelo Serviço de Atendimento Móvel de Urgência (Samu).
‘Apagaram’ após uso de droga
Em depoimento à Polícia Civil, a jovem que estava com o rapaz ferido contou que o casal usou drogas e álcool no local. Segundo ela, os dois “apagaram” depois de usar os entorpecentes.
Ela confirmou que os fatos aconteceram na praia e que ela pediu ajuda aos vigias do parque no qual a praia é localizada por volta das 2h. Um vídeo mostra o jovem sendo resgatado já ferido, na manhã do dia 16.
Mesmo ferido, o jovem conseguiu dizer onde estava para a mãe da namorada.
Segundo o laudo médico, o rapaz tinha lesões no rosto (boca, orelha e sobrancelha) e fratura no nariz, além do ferimento na barriga.
O prontuário médico do jovem obtido com exclusividade pelo g1 e pela TV Gazeta mostra vestígios de dosagem alta de fentanil no sangue dele. A substância – um anestésico e analgésico opioide de uso controlado – é 50 vezes mais potente que a heroína e 100 vezes mais forte que a morfina.
Fonte: g1