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Pesquisadora diz que cães podem 'farejar' câncer em amostras de sangue e saliva com 95% de precisão

Fonte: G1

Uma pesquisa realizada nos Estados Unidos aponta que cães são capazes de “farejar” o câncer em amostras de sangue e saliva com 95% de precisão. Os resultados foram apresentados em abril na reunião anual da Sociedade Americana de Bioquímica e Biologia Molecular, em Orlando, na Flórida.

Segundo a pesquisadora Heather Ann Junqueira, em um dos testes realizados os animais apontaram indícios de câncer de mama em uma paciente, 18 meses antes de o tumor ser diagnosticado por meio de um exame de mamografia.

Formada em medicina esportiva pela Universidade de Louisville, Heather especializou-se em medicina veterinária na Universidade Saint Peter e morou por alguns anos em Barretos (SP) e Frutal (MG). Atualmente, a cientista vive na Flórida, onde realiza os experimentos.

“É um estudo complexo. Por enquanto, as pessoas podem comprar um teste, o cachorro sente o cheiro e diz se há indícios de câncer, ou não. Isso, para detectar mais cedo. Mas, é preciso ir ao médico e fazer outros exames. É uma pesquisa, não serve como diagnóstico final”, explica.

Associada ao laboratório BioScentDX, Heather afirma que os voluntários recebem um kit, que inclui uma máscara cirúrgica para ser usada por um determinado período. Depois, esse material é embalado adequadamente e devolvido para ser usado na pesquisa.

“Eu faço os cães farejarem a máscara e dou um petisco. Depois, coloco o objeto com o cheiro junto com um pedaço de comida e escondo em algum lugar. Eles têm que farejar e descobrir. Na verdade, eles estão procurando pela comida, mas acabam associando os odores”, diz.

Heather conta que, além das máscaras, já utilizou amostras de sangue de pacientes no estudo. O treinamento é realizado de forma bastante semelhante ao que é feito pela polícia com cães que farejam drogas, sempre associando o petisco ao odor.

“Quando eles chegam perto do objeto, eu mando sentarem. Então, eles sentam e ganham um petisco. Por fim, tiro a comida e só fica o objeto com cheiro de câncer. Quando eles descobrem e sentam, é como se pensassem ‘achei o cheiro, agora vou sentar e ganhar comida’”, detalha.

A pesquisadora Heather Ann Junqueira com os cães da raça beagle usados no estudo de câncer — Foto: BioScentDX/Divulgação

A pesquisadora Heather Ann Junqueira com os cães da raça beagle usados no estudo de câncer — Foto: BioScentDX/Divulgação

Segundo a pesquisadora, os cachorros têm 300 milhões de receptadores de cheiro, enquanto o homem tem 5 milhões. Além disso, a parte do cérebro dos cães dedicada ao olfato é 40 vezes maior do que no ser humano, o que leva os animais a terem esse sentido mais aguçado.

“Tenho quatro cachorros treinados para descobrir qualquer tipo de câncer. Isso porque, todos os cânceres têm uma parte – digamos assim – com o mesmo cheiro. Mas, é possível treinar os cães para descobrir só um tipo de câncer”, explica.

De forma geral, os animais já conseguem identificar “cheiros” relacionados a câncer de mama, pulmão, próstata, colorretal, tireoide, melanoma, linfoma e carcinoma de células renais. Em amostras de sangue, o índice de precisão chega a 97% dos casos.

“Sempre existe algo que diferencia os tipos de câncer e é possível treiná-los para identificar esse cheiro diferente. Hoje, tenho um cachorro que identifica câncer de forma geral, outros quatro que identificam câncer de pulmão e mais um especialista em câncer de mama”, diz.

Cão da raça beagle usado na pesquisa de identificação do câncer nos Estados Unidos — Foto: BioScentDX/Divulgação

Cão da raça beagle usado na pesquisa de identificação do câncer nos Estados Unidos — Foto: BioScentDX/Divulgação

Heather explica que o estudo é feito com cães da raça beagle, que têm olfato muito apurado e, justamente por isso, são usados em caça nos Estados Unidos. Entretanto, também é possível utilizar labradores, apesar de essa raça exigir mais tempo de treinamento.

“Estou treinando um labrador, mas eles necessitam de mais tempo para sentir o cheiro. Enquanto um labrador leva um minuto para identificar, um beagle sente em cinco segundos. Eles trabalham muito mais rápido do que os outros, têm muita capacidade olfativa”, relata.

Em dois anos, cerca de 600 voluntários já enviaram amostras para serem submetidas aos testes com cães. Desse total, segundo Heather, 15 pessoas foram identificadas com câncer e três casos de reincidência em mama também foram apontados pelos animais.

Pesquisa aponta que cães podem 'farejar' o câncer em amostras de sangue e saliva — Foto: BioScentDX/Divulgação

Pesquisa aponta que cães podem ‘farejar’ o câncer em amostras de sangue e saliva — Foto: BioScentDX/Divulgação

Agora, o estudo entre na etapa mais difícil: descobrir o que de fato os cães estão farejando. A partir da detecção desse elemento, a pesquisadora estima ser possível criar um exame para identificação de câncer, sem a necessidade do uso dos cachorros.

“A questão é descobrir o câncer muito cedo. Quando a gente descobrir o que eles estão farejando, será muito fácil desenvolver um teste a partir da respiração ou da saliva. Será parecido com um exame de gravidez que é vendido nas farmácias”, detalha.

Ainda de acordo com Heather, os resultados devem abrir caminho para outras pesquisas voltadas ao tratamento do câncer, já que o diagnóstico muito precoce, antes mesmo do aparecimento de um tumor, por exemplo, ainda é raro.

“Quando existe um câncer, geralmente é preciso fazer uma biópsia para descobrir qual o tipo. Mas, como fazer um tratamento sem biópsia? Como tratar um câncer, antes mesmo de existir um tumor? Isso vai abrir as portas para outras pesquisas”, finaliza.

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