Por Arthur Dutra.
Advogado e comunicador. Autor do livro “Natal do Futuro” (2021)
“Antes de qualquer coisa é preciso saber que uma segunda grande guerra fria já está instalada. E que ela não é, como a primeira, uma divisão de blocos Oeste x Leste compostos por países. Não é EUA x China no lugar de EUA x URSS. A segunda guerra fria é uma campanha de exterminação das democracias liberais promovida pelas maiores autocracias do planeta que se instala dentro de todos os países, capturando setores internos não-liberais desses países, sobretudo governos e forças políticas populistas”.
É com essas palavras duras e cruas que o pesquisador sobre democracia e fundador das Casas da Democracia, Augusto de Franco, nos dá a real sobre os conflitos geopolíticos que sacodem o mundo atualmente.
O Mapa da Liberdade, publicado anualmente pela Freedom House, mostra que em 2024 há um crescimento de países governados por autocracias no mundo. Aquelas nações que ainda não sucumbiram aos ataques autoritários, por sua vez, estão sendo parasitadas por grupos/partidos populistas iliberais que estão corroendo suas bases democráticas. Os povos realmente livres são, hoje, minoria no mundo.
No ranking do V-Dem 2023, citado por Augusto de Franco no site Dagobah, foram contabilizadas 33 autocracias fechadas, 56 autocracias eleitorais e um número não-determinado (menor do que 58) de regimes eleitorais parasitados por populismos. Por outro lado, no mesmo ranking temos 32 democracias liberais e um número não-determinado (também menor do que 58) de regimes eleitorais formais não-parasitados por populismos
Há, portanto, um evidente ataque às liberdades políticas em curso, que tem como finalidade inaugurar numa Nova Ordem Geopolítica Mundial, na qual a democracia como a conhecemos e lutamos para construir, não terá lugar.
Em termos gerais, e correndo o risco de simplificar demasiadamente uma questão complexa, já temos conflitos públicos (comerciais, políticos, culturais e bélicos) orientados por esse embate mais profundo entre Ocidente (liderado pelos Estados Unidos e Europa) e o chamado Sul Global (liderado por China, Rússia e outras autocracias).
Assim é que ganharam muito espaço no debate público as questões internacionais que têm mobilizado militâncias políticas de todos os lados, pois o que está em jogo não são “apenas” interesses meramente comerciais. Há uma guerra de civilizações escancarada e isso envolve a descida às bases da ordem vigente e, claro, das novas concepções nas quais os vencedores dessa disputa monumental construirão o novo mundo que emergirá.
Por tudo isso, muito além de darmos a atenção de sempre aos problema antigos que afligem nosso povo, é muito recomendável verificar, também, como que tipo de ideias, interesses, visões de mundo e atores internacionais as lideranças políticas e culturais brasileiras estão se alinhando, pois isso dirá muito para onde querem levar o Brasil: se para a defesa real da democracia e das liberdades, ou para um mundo novo onde ela não tem espaço, a não ser em discursos vazios, oportunistas e hipócritas.