
O governador paulista, Tarcísio de Freitas (Republicanos), alegou nesta terça-feira (25) que a denúncia apresentada pela Procuradoria-Geral da República (PGR) contra o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) por liderar uma tentativa de golpe de Estado após perder as eleições para Lula (PT) seria um ato de “revanchismo”. Na sua opinião, a acusação não faria sentido e carece de evidências.
“Não faz sentido nenhum. Se você pegar, é uma forçação de barra. Você tem hoje uma questão de revanchismo. A gente tem que deixar as paixões de lado”, afirmou o governador, que ocupou o cargo de ministro da Infraestrutura de Bolsonaro. “Nada do que é apresentado mostra alguma conexão, alguma relação com a situação. Então, realmente, está se criando uma maneira de se responsabilizar pessoas que não têm responsabilidade”.
A declaração foi dada após a inauguração de uma praça em Mogi das Cruzes, na região metropolitana de São Paulo. Antes, Tarcísio havia se manifestado sobre o assunto apenas pelas redes sociais.
O governador ainda questionou “qual o critério” para sustentar a denúncia do Ministério Público contra Bolsonaro e disse que não se pode “partir para esse tipo de vulgarização” contra o “inimigo público número um” de hoje e de amanhã.
“Ontem eu estava vendo os áudios lá que se divulgou. O que têm os áudios em termos de responsabilidade objetiva? Absolutamente nada. Então, sinceramente, tem muita forçação de barra nisso”, declarou Tarcísio.
Na entrevista, o trecho em que o Tarcísio comenta o assunto foi excluído do material divulgado publicamente pelo governo em uma plataforma de áudio. Não foi a primeira nem a última pergunta da coletiva, o que denota edição. A Secretaria de Comunicação foi procurada para esclarecer o motivo.
Denúncia
De acordo com a denúncia da PGR, Bolsonaro cometeu os crimes de organização criminosa armada, golpe de Estado, tentativa de abolição do estado democrático de direito, dano qualificado pela violência e grave ameaça contra patrimônio da União e deterioração de patrimônio tombado. Além dele, outras 34 pessoas foram acusadas de participação na trama golpista para mantê-lo no poder, incluindo os ex-ministros Walter Braga Netto, Augusto Heleno, Anderson Torres e Paulo Sérgio Nogueira e militares de alta patente.
A investigação lista provas que, para a PGR, comprovam que ele analisou e pediu alterações no texto de uma minuta golpista. Entre as propostas aventadas nesse texto estava a possibilidade de prisão de ministros do Supremo Tribunal Federal, como Alexandre de Moraes e Gilmar Mendes, e do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco (PSD). Conforme as apurações, Bolsonaro pediu para retirar os nomes de Gilmar e Pacheco da minuta.
A prisão das autoridades faria parte de um plano para interferir nas eleições de 2022 e no Tribunal Superior Eleitoral (TSE), que, na visão de Bolsonaro, teria tomado decisões “inconstitucionais” em desfavor dele. Neste contexto, as Forças Armadas seriam acionadas e agiriam como um “poder moderador”, com o objetivo de reverter o resultado eleitoral.
Bolsonaro e seus auxiliares teriam ainda atuado para disseminar notícias falsas e descredibilizar o processo eleitoral brasileiro, com o intuito de criar um ambiente favorável para uma intervenção militar. Fazia parte dessa iniciativa a reunião que ele convocou com embaixadores para fazer ataques ao sistema de votação brasileiro — o caso acabou o levando a ser condenado pelo TSE por abuso de poder político e uso indevido dos meios de comunicação.
Exemplo dessa articulação golpista, segundo a PF, ocorreu em reunião ministerial de julho de 2022. O encontro foi gravado pelo tenente-coronel Mauro Cid, ex-ajudante de ordens de Bolsonaro. No encontro, o ex-presidente diz a seus ministros que “os caras estão preparando tudo para Lula ganhar no primeiro turno” e que seria preciso “fazer alguma coisa antes” do pleito. No entendimento dele, “se a gente reagir depois das eleições”, o Brasil viraria um “caos” e “uma grande guerrilha”.
Um dos elementos obtidos pela investigação foi a confirmação de um encontro entre Bolsonaro e os então comandantes das Forças Armadas em dezembro de 2022 no qual foram apresentadas ações que possibilitariam um golpe. O ex-comandante do Exército Freire Gomes disse em depoimento à PF que, no encontro, Bolsonaro detalhou a possibilidade de “utilização de institutos jurídicos” como Garantia da Lei e da Ordem (GLO), Estado de Defesa ou Estado de Sítio para impedir a posse de Lula.
Segundo Gomes, ele e o ex-comandante da Aeronáutica Baptista Junior adotaram uma postura contra a proposta, enquanto o comandante da Marinha, Almir Garnier Santos, “teria se colocado à disposição do presidente da República”. Conforme Baptista Junior, Freire Gomes chegou a ameaçar Bolsonaro de prisão, caso o então presidente prosseguisse com o plano de golpe de Estado.
A PF descobriu ainda a existência de um plano para matar o presidente eleito, Luiz Inácio Lula da Silva, o vice-presidente eleito, Geraldo Alckmin, e o ministro do STF Alexandre de Moraes. A operação, batizada de Punhal Verde e Amarelo, teria sido colocado em prática em dezembro pelos “kids pretos” do Exército com apoio de Braga Netto, mas acabou cancelado de última hora. Segundo o MP, Bolsonaro “tinha pleno conhecimento do planejamento” da operação.
Fonte: O Globo